Após ser alvo de ofensas por vender picolés na rua, a sorveteira Bruna Atanazio, de 22 anos, postou em rede social uma resposta que serviu de lição de moral e acabou ganhando apoio dos moradores de Jales, cidade do interior de São Paulo onde ela mora e trabalha. A postagem já ultrapassou as 240 mil curtidas. “É bom saber que muita gente pensa como eu, mas isso não vai mudar em nada minha vida. Vou continuar fazendo o que faço”, disse a vendedora, que há quase dois anos percorre as ruas vendendo picolés.
No post publicado no dia 28 de outubro, ela conta que duas garotas passaram de moto por ela, que empurrava o carrinho de sorvetes, e riram de forma debochada. “Confesso que fiquei mal, com muita vergonha, e nos primeiros minutos quase voltei correndo para casa”, escreveu. “Sejam vocês quem forem, gostaria de dizer que no fim do dia eu tinha meus 74 reais no bolso, (dinheiro) muito suado e honesto.” Ela justificou a postagem dizendo ter orgulho de ser trabalhadora e ganhar seu dinheiro honestamente. “Quem não precisa de dinheiro tem vergonha de trabalhar como eu trabalho, de fazer o que eu faço”, disse.
Bruna reconhece que o trabalho de vender sorvetes na rua é árduo, pois fica exposta ao sol e às vezes passa horas sem conseguir vender, mas gosta do que faz. Essa não foi a primeira vez que passou constrangimento. “Existem os engraçadinhos que passam pelas ruas e debocham do meu trabalho. É como se eu só pudesse ser admirada se já tivesse um diploma de faculdade. Quem debocha é minoria, mas às vezes são as pequenas coisas que ferem mais”, disse.
Em sua página no Facebook, a jovem recebeu manifestações de apoio. “Quando vejo uma ministra que ganha 33 mil ao mês dizer que seu trabalho é escravo e perco a esperança nos brasileiros, vem a Bruna para restaurar minha fé de que ainda há esperança”, postou Alisson Cordeiro. “Obrigado, Bruna, por mostrar que os brasileiros na sua grande maioria são trabalhadores e pessoas de bem.” Ele se referia à ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, que havia pedido para acumular seus vencimentos no Ministério com sua aposentadoria como desembargadora para receber R$ 61 mil mensais, acima do teto constitucional de R$ 33,7 mil – em razão da repercussão negativa, ela acabou desistindo do pedido.
A sorveteira, que consegue ganhar cerca de R$ 1,2 mil por mês, recebeu também manifestações de carinho e incentivo. “Bruna, não a conheço, mas venho aqui te dar os parabéns e desejar muito sucesso”, postou a internauta Angela Figueiredo. “Deixe a crítica de lado, pois quem critica tem inveja de você. Lute por seus sonhos”, recomendou Adriana Martins. “Estamos vivendo momentos de inversão de valores. Você me representa. Quem lhe trata desrespeitosamente, por estar trabalhando, representa a escória desse país”, escreveu Nazaré Moraes.
A “menina do picolé”, como já ficou conhecida, passou a ser cumprimentada pelas pessoas nas ruas. “Muita gente está vindo me cumprimentar, mas não fiz nada demais. Eu preciso do dinheiro que ganho com o meu trabalho, mas quero que seja sempre de forma honesta”, disse. Outros vendedores de sorvete fizeram questão de posar para fotos com a garota. “Eles são mais que meus concorrentes, são meus companheiros”, disse.