O Dia de São João, comemorado em 24 de junho, é uma das datas mais emblemáticas do calendário religioso e cultural brasileiro. O homenageado é João Batista, primo de Jesus, reconhecido na tradição cristã como o precursor do Messias. Filho de Isabel e Zacarias, João tinha a missão de anunciar a chegada de Cristo e preparar espiritualmente o povo para essa transformação.
Segundo o historiador Antonio Sergio Giacomo Macedo, “João representa todo cristão que escolhe seguir e anunciar Jesus”. É um dos únicos santos, ao lado de Maria e do próprio Cristo, que tem tanto o nascimento quanto a morte celebrados pela Igreja Católica.
Por que 24 de junho
A escolha do dia 24 está ligada ao calendário litúrgico cristão e aos antigos ciclos solares. A data marca exatamente seis meses antes do nascimento de Jesus, celebrado no Natal, e foi usada pela Igreja como estratégia para incorporar festividades pagãs, adaptando-as à fé cristã. “É uma forma de inculturar a fé, comum no cristianismo primitivo”, explica a teóloga Ana Beatriz Dias Pinto, da PUCPR.
São João no Brasil
No Brasil, a festa chegou com os portugueses, principalmente pelos Jesuítas, mas ganhou características únicas. Nas zonas rurais, passou a ser também uma celebração da colheita e da fertilidade da terra, misturando elementos indígenas e africanos. No século XX, com o êxodo rural, a festa migrou para as cidades, mas manteve o clima de interior, valorizando a simplicidade e o coletivo.
“Ela celebra a roça, o povo simples, os ritos de passagem e o alimento produzido pela terra”, destaca Ana.
Símbolos e significados
Diversos elementos compõem o imaginário junino. A fogueira, por exemplo, remete ao aviso de Isabel a Maria sobre o nascimento de João. O fogo é símbolo de purificação e transformação. Já os balões simbolizam pedidos aos céus, e as bandeirinhas representam alegria e fé. As roupas caipiras exaltam a figura do homem do campo e a quadrilha celebra união e fartura.
A professora da PUCPR também aponta o sentido profundo por trás dos fogos e da tradicional “pula-fogueira”: são rituais de coragem, renovação e espiritualidade popular.
Comida, cultura e raízes
As comidas típicas são um show à parte: milho, mandioca, coco e amendoim estão no centro das receitas. Pratos como pamonha, curau, canjica, cocada e pé-de-moleque têm origens nas culturas indígenas, africanas e portuguesas, um reflexo da própria formação do Brasil.
Mais que uma festa, o São João é um retrato vivo do sincretismo brasileiro, onde fé, tradição e cultura se misturam com música, dança e sabor.