Você já deve ter escutado histórias sinistras de seres vivos — como pobres animais de estimação, por exemplo — que, por alguma razão, foram parar no micro-ondas, e que o resultado dessa perversa intervenção culinária foi uma incrível e sanguinolenta bagunça. Mas, suponhamos que exista um micro-ondas grande o suficiente para comportar um humano dentro, o que aconteceria se botássemos o aparelho para funcionar? Uma baita explosão de carne e entranhas?
Pois Esther Inglis-Arkell do site io9, pensou bastante sobre o assunto e chegou a uma conclusão que pode surpreender alguns. Mas, para entender o desfecho desta macabra análise, antes precisamos entender algumas coisinhas sobre o comportamento de correntes, ondas eletromagnéticas e sobre o funcionamento dos fornos de micro-ondas.
O efeito pelicular
Imagine uma corrente elétrica fluindo por um material condutor. Quando ela é constante — ou seja, contínua — a energia corre de maneira uniforme de um ponto a outro através de todo o material. No caso de uma corrente alternada, além de a energia não percorrer o condutor de forma homogênea, o sentido no qual ela se movimenta varia ao longo do tempo. Além disso, a corrente elétrica tende a se concentrar próximo à superfície do material, raramente penetrando até seu interior.
Segundo Esther, basicamente, é a isso que chamamos de efeito pelicular, e ele se torna cada vez mais aparente conforme a frequência aumenta, o que significa que frequências mais baixas têm mais poder de penetração. Assim, quando um determinado material é mais condutivo — ou permeável —, sob o efeito de uma corrente alternada, a energia se torna mais concentrada em sua superfície.
Aliás, tudo isso ajuda a explicar um dos maiores mistérios sobre o funcionamento dos fornos de micro-ondas: o motivo de alguns alimentos ficarem extremamente quentes por fora e congelantes por dentro.
Funcionamento do micro
O funcionamento do forno de micro-ondas está baseado em uma série de válvulas eletrônicas que transformam a energia elétrica em ondas eletromagnéticas. Essas válvulas — chamadas magnétrons — foram originalmente projetadas para integrar sistemas de radar militares, e geram ondas de alta frequência que geralmente rondam os 2,5 gigahertz.
Essa é a frequência ideal para ser absorvida pelas moléculas de água presentes nos alimentos, e essa energia faz com que essas moléculas vibrem em velocidades muito altas, o que, por sua vez, gera o calor necessário para cozer a comida. Assim, é por isso que os micro-ondas não cozinham os alimentos de dentro para fora, como muita gente pensa — e é aqui que entra o efeito pelicular.
As ondas, na verdade, penetram apenas cerca de uma polegada e meia nos alimentos. São as propriedades condutoras da carne e dos vegetais, por exemplo, que se ocupam de aquecer seu “miolo”. Os elementos exteriores apenas transportam o calor para o interior. Desta forma, quanto maior for a quantidade de moléculas de água presentes em um determinado alimento, mais uniforme será seu aquecimento.
Portanto, é por isso que é melhor cozinhar grandes pedaços de comida ou alimentos congelados com potência reduzida por períodos mais longos, para garantir que o alimento fique cozido por igual — e não fique apenas com as camadas mais externas escaldantes.
Cozinhando humanos
Depois de esclarecer as questões técnicas da coisa, vamos ao que interessa! Segundo Esther, a verdade é que a experiência não seria nada agradável. Contudo, se estivermos considerando um forno de micro-ondas comum, como esses que temos em casa, os danos provavelmente seriam em sua maioria superficiais.
Imagine que enfiamos uma pessoa em um aparelho desses. Ela certamente não ia querer ficar muito tempo lá dentro, não é mesmo? Sendo assim, o candidato a comida seria exposto a potências mais altas por um período mais reduzido, e seus órgãos internos provavelmente não seriam cozidos durante o processo.
Entretanto, considerando que os olhos, por exemplo, contam com mais concentração de água do que outros órgãos, talvez seja uma boa ideia que o pobre coitado mantenha os seus bem fechados!