Médicos dão más notícias o tempo todo, embora nem todas sejam terríveis. Vão desde as que incomodam temporariamente, como não pegar peso durante duas semanas, passando pelas sérias, como iniciar um tratamento para manter a pressão estável, até as mais dramáticas, como anunciar a morte de um ente querido ou a existência de uma doença grave ou terminal. As informações são do G1.
Do outro lado, está um ser humano: às vezes disposto a cooperar, ou então, em situação de enorme fragilidade emocional. O progressivo envelhecimento da população levará a um número cada vez maior desse tipo de conversa, que demanda não apenas treinamento, mas também empatia por parte dos profissionais de saúde.
Em 1992, o oncologista Robert Buckman lançou um livro que se mantém como referência no meio: “How to break bad news”. Ele criou um protocolo denominado SPIKES, que se refere a um acrônimo em inglês organizando seis etapas a serem seguidas. A primeira letra é a do “setting up”: preparar um ambiente acolhedor para dar a notícia. A segunda é “perception”, na qual o médico deve observar o quanto o paciente já sabe sobre seu diagnóstico e prognóstico. Na terceira, “invitation”, a preocupação é avaliar o quanto ele deseja saber sobre o diagnóstico, além do seu preparo emocional para receber a informação. O quarto passo é “knowledge”: a hora de dar a notícia propriamente dita, de forma clara, realista, mas também acolhedora. A quinta etapa é a chamada “emotions”, quando se lida com as diversas emoções do paciente, sempre com empatia. Por último, “strategy and summary” é quando as estratégias terapêuticas devem ser consideradas, mostrando as possibilidades de tratamento.
Para ele, não se tratava de um protocolo a ser seguido apenas em casos de um quadro grave e irreversível: “má notícia é qualquer notícia que altera, negativa e drasticamente, a visão do paciente sobre seu futuro”, sempre ressaltou. Nesse caso, podemos incluir todas as doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes, que demandam engajamento para que o tratamento funcione. A questão ainda é sensível para muitos médicos. Embora hoje haja consenso de que o treinamento dos profissionais de saúde é indispensável, nem sempre a conversa funciona como deveria.
Se o doutor adia a comunicação, falando de generalidades, pode tornar ainda mais difícil o momento da má notícia. Se suaviza em excesso a situação, como se estivesse “dourando a pílula” quando o caso é grave, pode acarretar a desconfiança do paciente. E se emenda o comunicado com uma enxurrada de informações sobre o tratamento e próximos passos, não dá tempo para a pessoa assimilar o que está acontecendo e lidar com as emoções que afloram. O momento da escuta de quem está ali, recebendo o diagnóstico, é tão importante quanto anunciar o protocolo para combater a doença. Talvez todos devêssemos ter um papo com nossos médicos para saber como eles se comportariam ao nos dar esse tipo de notícia.