O final de semana chegou, você já decidiu qual série vai assistir, está lá deitado no sofá bem feliz e, de repente, se lembra de pegar o celular, que ficou em seu quarto. Em instantes, sai do sofá e caminha em direção ao cômodo que abriga seu sono e seus sonhos. De repente, você chega lá e dá aquele branco: o que mesmo você foi buscar?
A verdade é que quando esse tipo de coisa acontece, você simplesmente se esquece de algo que deveria ser feito imediatamente em questão de segundos. Por mais bizarro que isso nos pareça, ainda mais pensando pela perspectiva do tempo em si, o súbito esquecimento, fenômeno comum a todos, é absolutamente normal.
O Doorway Effect – que podemos chamar de “Efeito de passagem pela porta” – é o que nos faz ter esses esquecimentos instantâneos. A boa notícia é que isso é um sinal de que nosso cérebro está trabalhando normalmente e que a memória, ao contrário do que foi lindamente retratado em “Divertida Mente”, não é uma espécie de armário cheio de momentos.
Não que nossas memórias não fiquem guardadinhas em gavetas cerebrais, mas a questão é muito mais complexa do que supunha nossa vã neurociência. Pense sempre em seu cérebro como um computador extremamente potente, capaz de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo.
Em 2011, um grupo de pesquisadores descobriu que esse súbito esquecimento que nos acomete de vez em quando é, na verdade, culpa desses nossos programas cerebrais. Na ocasião, eles analisaram 55 universitários, que tiveram que participar de um jogo realidade virtual, que consistia, basicamente, em carregar objetos em alguns cômodos.
De vez em quando, a imagem de um objeto aleatório surgia na tela do computador, e os participantes tinham que dizer se aquele objeto era o que eles estavam carregando no momento atual ou se era um que eles já haviam carregado. Em outro momento do teste, os participantes estavam em um ambiente diferente e os objetos que carregavam eram escondidos em uma caixa.
Adivinha só? Nas duas situações, o simples ato de ir de um cômodo a outro foi suficiente para que os universitários esquecessem o que estavam fazendo. Além disso, os pesquisadores descobriram que não se trata da distância percorrida pelos participantes, mas sim do ato de atravessar uma porta. Curioso, né?
A conclusão disso tudo? Bem... Parece que nosso cérebro interpreta a passagem de um cômodo a outro como um ponto de corte, capaz de interromper, inclusive, a memória que carregávamos. Isso pode ter a ver com a necessidade cerebral de criar um novo contexto em um ambiente diferente.
Ao visitar o cômodo novo, o cérebro está ligadão em questões relacionadas à consciência espacial, à memória e ao movimento. A questão é que, por mais que sejamos uma máquina ultramoderna e capacitada, nos atrapalhamos na hora de fazer tudo isso, e aí a memória dá aquela escorregadela – antes ela do que seu corpo ou sua noção de espaço, convenhamos.
Ainda não se sabe um truque comprovadamente científico para evitar esse esquecimento súbito, mas se acontece muito com você, o jeito é começar a fazer pequenas anotações ou criar truques pessoais para acabar com a maldição do esquecimento súbito.