Durante uma pesquisa realizada em 2005, dois estudiosos constataram que a reação das pessoas aos odores corporais de outros é notavelmente superior à dos cheirinhos delas próprias. Na mesma ocasião, eles também descobriram que, entre todos os aromas desagradáveis produzidos pelo corpo humano, o que mais incomoda as pessoas é definitivamente o dos "puns". Tendo esses dados em vista, resta a pergunta: por que os flatos dos outros são piores?
A principal razão para isso é provavelmente o fato de cada pessoa ser acostumada aos próprios cheiros. O funcionamento do nosso corpo faz com que odores com os quais estejamos habituados ou se tornem agradáveis ou, caso isso seja impossível, sejam ao menos parcialmente ignorados pelo seu cérebro. Como passamos o tempo todo sentindo nossos próprios aromas, eles acabam se tornando mais suaves para nós.
Por que puns barulhentos não fedem e os silenciosos, sim?
Uma pessoa que comeu uma porção considerável de alho é um bom exemplo disso. Ainda que ela escove os dentes e use enxaguantes bucais e ache que o cheiro se tornou menos perceptível, é provável que outras pessoas que não consumiram o alimento ainda sintam o odor. Isso acontece porque alguns compostos sulfúricos no alho são metabolizados e chegam à corrente sanguínea, eventualmente alcançando seus poros e outras fontes de secreções.
Dessa forma, não somente ela passa a emanar uma espécie de “perfume” fedido, mas o ar em seus pulmões também entra em contato com os elementos fétidos e piora seu hálito. Como o cérebro rapidamente “desliga” sua percepção desse cheiro, é muito difícil que o “Sr. Alho” perceba que está emanando o odor desagradável – e é o mesmo tipo de coisa que acontece com os seus puns, ainda que em uma escala bem menor.
Estado de alerta
Outro possível fator que ajuda a diminuir nossa percepção é o fato de o seu cérebro se preparar com antecedência para receber o cheiro ruim, já que sabe que você acaba de fazer o serviço sujo. Isso pode até soar um pouco forçado, mas a verdade é que costumamos fazer coisas parecidas o tempo todo.
É por esse mesmo motivo que dificilmente conseguimos fazer cócegas em nós mesmos sem a ajuda de algum acessório, por exemplo. O cérebro humano costuma antecipar as coisas que acontecem ao seu redor para ajudar a acelerar seus tempos de resposta aos acontecimentos, entre outros motivos. Mais um exemplo é o fato do cérebro diminuir a sensação de tato na ponta dos seus dedos quando você está digitando – a menos que você conscientemente fique atento.
Mecanismo de defesa
Os fatores acima, no entanto, não explicam por que os "puns" de outras pessoas ainda parecem piores mesmo quando você sabe que elas deixaram um sair. Embora ainda não saibamos exatamente qual é o motivo disso, pode-se teorizar que há dois fatores influenciando nesse caso. Primeiramente, seu cérebro pode estar confirmando um preconceito adquirido ao longo da vida. Já que você lembra que os gases de outras pessoas fedem, isso acaba influenciando sua reação.
Em segundo lugar, voltamos ao fato de que seu cérebro não consegue desativar a percepção de odores “estrangeiros” da mesma forma que faz com os “domésticos”. Soma-se a isso, nesse caso, o hábito que temos de reagir mais fortemente a cheiros ruins que vêm de outras pessoas, ainda que o "pum" em questão tenha mais ou menos os mesmos níveis de gases tóxicos dos seus próprios.
Ainda que o mecanismo não seja completamente compreendido, sabemos que há fatores evolutivos importantes envolvidos, já que é perfeitamente possível pegar uma doença por sentir o cheiro do "pum" de outra pessoa. Isso era mais fácil quando os seres humanos não utilizavam roupas de baixo e outras vestimentas, que “filtram” as emissões gasosas e seguram alguns patógenos como o Streptococcus pyogenes.
Arca dos tesouros gasosos
Sejam esses motivos os que nos levam a sentir mais os cheiros ruins emitidos por outras pessoas ou não, o fato é que nosso cérebro foi treinado ao longo dos milênios para permanecer completamente alerta à ameaça dos gases alheios.