A razão? O calor extremo e a grave seca que atingem a região. O sacrifício dos animais, que começou na quarta-feira (08) , tem previsão de durar cinco dias.
Os caçadores pertencem ao Departamento de Meio Ambiente e Patrimônio da Austrália. A população dos animais que serão caçados, na verdade, não é só de camelos: o que se considera como o grupo de "camelos selvagens australianos" também inclui dromedários.
A decisão foi tomada depois que as comunidades aborígenes da região denunciaram que grupos de camelos estavam danificando estruturas em busca de água. "Eles estão andando pelas ruas em busca de água. Estamos preocupados com a segurança das crianças", disse Marita Baker, da comunidade Kanypi.
Alguns cavalos selvagens também serão abatidos. O calor e a seca provocaram uma onda de incêndios florestais na Austrália nos últimos meses, mas a seca prolongada se estende há anos no país.
É por isso que o sacrifício dos camelos não está diretamente relacionado à crise causada pelas queimadas. O abate será realizado na reserva Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara (APY), área onde vivem vários grupos de povos indígenas.
'Pressão extrema'
"Há uma pressão extrema sobre as comunidades aborígines nas terras APY e suas atividades pecuárias com esses camelos em busca de água", afirmou Richard King, diretor-geral da APY, em comunicado.
"Dada a seca prolongada e as grandes concentrações de camelos que ameaçam comunidades e a infraestrutura na APY, é necessário controlar os camelos imediatamente."
"Estamos presos nestas condições de calor incômodas e sofrendo com a chegada dos camelos, eles estão derrubando cercas e se aproximando das casas para tentar obter água dos aparelhos de ar-condicionado", acrescentou Marita Baker, membro do conselho executivo da APY.
Muitos desses camelos morrem de sede e brigam entre si por água. "Em alguns casos, as carcaças dos animais contaminaram importantes fontes de água e áreas culturais", vitais para os aborígenes da região.
Fora de controle
Esses camelos não são nativos da Austrália. Eles foram levados para o país no século 19 por colonizadores britânicos — e são provenientes da Índia, do Afeganistão e do Oriente Médio.
O número de camelos pode variar, mas estima-se que existam hoje centenas de milhares de exemplares em toda a parte central do país.
Os camelos danificam áreas ocupadas por humanos, incluindo cercas e equipamentos agrícolas. Além disso, bebem a água que seria destinada às pessoas que habitam essas áreas. Eles também emitem gás metano, gás de efeito estufa que contribui para as mudanças climáticas.
Em entrevista à rede de televisão ABC, Richard King informou que vai aproveitar o momento em que os camelos se aproximarem da água para abatê-los. "Isso nos dá a oportunidade de caçá-los quando estão juntos, porque eles geralmente se deslocam pelo deserto em pequenos grupos", explicou King.
Incêndios florestais
A onda de incêndios florestais que atinge a Austrália já deixou 25 mortos desde setembro — e quase 2 mil casas foram destruídas pelo fogo, que consumiu pelo menos 5 milhões de hectares até agora.
Cerca de 800 milhões de animais também perderam suas vidas nos incêndios, que afetam particularmente o leste e o sul do país.
Na Austrália, os incêndios florestais são comuns nessa época do ano, mas nesta temporada a situação foi pior do que em anos anteriores. A cada década, faz mais calor no país, e a expectativa é que a situação continue a se agravar.
De fato, os cientistas alertam há algum tempo que a seca e o aumento da temperatura vão contribuir para que os incêndios se tornem mais frequentes e intensos.