Amika George tinha 17 anos quando leu uma notícia que a chocou: uma em cada dez britânicas entre 14 e 21 anos não tinha condições de comprar absorventes íntimos e 49% já deixaram de ir à escola por estarem menstruadas.
Moradora de Londres, Amika nunca imaginou que isso pudesse acontecer na segunda maior economia da Europa. Também se perguntou o motivo de o assunto não ser discutido abertamente nem entre governantes nem entre a sociedade civil.
A estudante, hoje aluna da Universidade de Cambridge, lançou uma campanha contra a pobreza menstrual — termo até então pouco empregado nas discussões sobre desigualdade social. Nos últimos dois anos, mobilizou ativistas pelos direitos da mulher, criou petições e reforçou uma onda que começa a fazer diferença.
No mês passado, o movimento conquistou sua primeira grande vitória: o governo anunciou que distribuirá absorventes para escolas secundárias e instituições de ensino superior na Inglaterra.
Reprodução/Twitter @AmikaGeorge
A campanha liderada pela jovem inglesa ajudou a popularizar a hashtag #freeperiod (menstruação livre) e mostrou que a questão é um fator de exclusão que extrapola as barreiras entre países pobres e ricos.
Mitos e tabus complicam o debate sobre a relação entre menstruação e evasão escolar — mais uma expressão da desigualdade de gênero que afeta principalmente mulheres em situação de pobreza.
As organizadoras da campanha #freeperiod fizeram as contas: mulheres gastam 13 libras (R$ 67) por mês no Reino Unido com produtos para menstruação. Ao longo da vida serão 18 mil libras (R$ 97 mil). Amika defende que, para início de conversa, é preciso quebrar o silêncio que ronda o tema.
— Temos que parar de ficar constrangidas. Menstruação é só um processo natural, e não devemos nos desculpar por isso. Precisamos falar sobre menstruação mais abertamente.
Ela continua pressionando o governo britânico para que escolas primárias também recebam absorventes.
— As meninas estão começando a ficar menstruadas muito mais cedo. É importante que todas tenham acesso a esses produtos. Isso significa assistir à aula sem preocupação ou ansiedade.
Aos poucos, iniciativas que falam em “libertação menstrual” ganham espaço. A última cerimônia do Oscar ajudou a fortalecer vozes como a de Amika, premiando o documentário “Absorvendo o tabu”, sobre o preconceito num vilarejo rural da Índia, onde mulheres se uniram para fabricar absorventes de baixo custo, deixando de tratar a menstruação como se fosse doença.