Para uma vida saudável, precisamos de um cérebro ativo. À medida que envelhecemos, fica mais difícil memorizar números de telefone e, às vezes, não vem à cabeça aquela palavra exata que queremos dizer. A memória, a atenção e a capacidade de concentração e expressão são algumas das habilidades afetadas com o passar do tempo.
No entanto, existem boas notícias. Nas últimas décadas, a neurociência está demonstrando que nós todos, em qualquer idade, podemos realizar um treinamento cognitivo que nos ajude a manter nossa massa cinzenta mais jovem. Este é um bom momento para começar, principalmente em uma época tão dura como a que vivemos.
Antes de propor uma agenda de exercícios, façamos uma pequena diferenciação. A terapeuta Catalina Hoffmann, grande especialista em desenvolvimento cognitivo e autora do método que leva seu nome, sustenta que treinar é diferente de realizar uma manutenção mental.
Se fizermos diariamente atividades que nos agradam, como sudoku ou caça- palavras, por exemplo, estaremos promovendo uma manutenção das áreas do cérebro que estão saudáveis e ativas. Equivaleria ao exercício de correr todos os dias para alguém que gosta do exercício físico. Já treinar é desenvolver áreas cerebrais que estão saudáveis, mas não ativas, e que deixamos de lado por diversos motivos: porque não prestamos muita atenção nelas, porque nos frustravam ou porque as atividades de que necessitavam não nos motivavam.
Hoffmann assinala que treinar envolve “acordar nossos neurônios Netflix”, que estão confortavelmente sentados no sofá e não têm nenhuma necessidade de sair dele. É aí que começa nosso desafio. Quando treinadores mentais são consultados a respeito de seus truques, enumeram atividades simples, que podem ser praticadas diariamente e não requerem mais de 10 minutos por dia.
Vejamos oito delas, que surgem das recomendações que a própria Hoffmann reúne em seu método, mas também de livros como Entrena tu Cerebro (“treine seu cérebro”), de Marta Romo; Superpoderes del Éxito para Gente Normal (“superpoderes do sucesso para pessoas normais”), de Mago More, e Supertrucos Mentales para la Vida Diaria (“supertruques mentais para a vida diária”), de Jorge Luengo. Estas são suas propostas.
Ouvir música 8D com fones de ouvido
Esse tipo de música costuma ser utilizado em filmes ou games e é especialmente envolvente porque ativa o cérebro como um todo, segundo Hoffmann. Está disponível na Internet e é recomendável ouvir com os olhos fechados, prestando atenção nos instrumentos, na voz, no ritmo.
Dia da mão não dominante
Um dia por semana, devemos fazer tudo com a mão que não utilizamos habitualmente. Se somos destros, viramos canhotos, ou vice-versa. Essa atividade facilita a conexão dos hemisférios cerebrais e aumenta a reserva cognitiva.
Ler em voz alta
Quando lemos em voz alta, abrimos novas rotas neuronais, por isso é recomendável fazer isso uma vez por semana, mesmo que estejamos sozinhos.
Fazer algo que nos incomode
Temos de evitar cair na zona de conforto. Mago More sugere fazer coisas que nos custe fazer, mesmo que sejam pequenos atos, como não comer uma sobremesa de que gostemos muito ou seguir um caminho diferente do habitual.
Trabalhar com os aromas
Hoffmann sugere colocar, em recipientes, aromas que sejam familiares, como um sabonete da infância, um perfume antigo... O exercício consiste em vendar os olhos e se deixar surpreender pelo olfato. Desse modo, ativamos um dos sentidos menos desenvolvidos e abrimos novas conexões neurais. Essa dinâmica também pode ser feita com sabores, se alguém tiver dificuldades com o olfato.
Praticar esporte ou jogar
Como Marta Romo reconhece, o esporte também ativa nosso cérebro e nos ajuda até a desenvolver novos neurônios. Além disso, quando o corpo se movimenta, a mente relaxa e cria um espaço ideal para a aprendizagem.
Coordenação óculo-manual
Uma das chaves do treinamento cognitivo é conectar diferentes áreas cerebrais. Neste caso, Hoffmann sugere usar massa de modelar, ou qualquer outro material que possa ser moldado, para criar formas diferentes. O objetivo é conectar os olhos com as atividades das mãos.
Desafiar a atenção
Existem livros e dinâmicas para encontrar diferenças entre duas imagens ou encontrar uma que esteja oculta. Este exercício ajuda a treinar a atenção. Jorge Luengo, um ilusionista famoso, sugere praticá-lo dia após dia, quando estamos na rua sentados ou esperando em uma fila. O desafio é muito fácil: observamos as pessoas ao nosso redor, fechamos os olhos e tentamos lembrar detalhes de seus sapatos, sua roupa.
Treinar nosso cérebro para criar hábitos diferentes e desenvolver todo o nosso potencial cognitivo está em nossas mãos. Basta decidir fazer isso.