Cientistas investigam uma estranha emissão de ondas que pode ter chegado à Terra a partir de um planeta de fora do Sistema Solar e avaliam se ela poderia ser considerada um indício de vida extraterrestre. Especialistas dizem que há indícios de que o sinal teria partido de Proxima Centauri b, o exoplaneta que orbita a estrela Proxima Centauri, a mais próxima do Sol, em uma região considerada potencialmente habitável.
Os astrônomos creem que Proxima Centauri b, planeta a 4,2 anos-luz da Terra, tenha uma superfície rochosa e fontes de água líquida. Algumas medições também indicam que poderia ter uma atmosfera, como ocorre na Terra.
A Nasa (agência espacial americana) classifica Proxima Centauri b, descoberto em 2016, como um exoplaneta ligeiramente maior do que a Terra (com massa 27% maior).
As ondas foram detectadas em 2019 por um radiotelescópio gigante instalado na Austrália e, desde então, grupos diferentes de cientistas tentam entender a descoberta. Entre as hipóteses avaliadas está a de que a origem das ondas esteja ligada a alguma forma de vida fora da Terra.
"Foi um sinal que apareceu uma vez e não voltou a se repetir. Tinha uma frequência diferente da que emitem os dispositivos terrestres como satélites e espaçonaves", explica à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC) a pesquisadora Mar Gómez, doutora em Ciências Físicas pela Universidade Complutense de Madrid.
A detecção das ondas
O Observatório Parkes está localizado no Estado de Nova Gales do Sul, na Austrália. É chamado de "O Prato" por conta do radiotelescópio que funciona ali há 50 anos. Foi ele que detectou o sinal estranho.
Ele já foi usado em várias missões espaciais e compartilha informações com diferentes organizações, como a Nasa. "Estamos falando de um telescópio muito importante. Temos que lembrar que ele foi utilizado para receber imagens da aterrissagem da Apolo 12 na Lua", comenta Gómez.
A pesquisadora acrescenta que o observatório também colabora com outras missões como os projetos de busca por inteligência extraterrestre (SETI, na sigla em inglês).
A estranha emissão de ondas chamou a atenção dos cientistas.
"Como no espaço não há som, a única forma que temos para nos comunicarmos, assim dizendo, são ondas de rádio. Nós podemos emiti-las ao espaço exterior. Talvez em outro planeta ou sistema estelar exista uma forma de vida que tente se comunicar dessa forma", afirma.
O projeto Breakthrough Listen, que se dedica à observação e à análise da busca de sinais de vida no Universo, também investiga os sinais. Trata-se de um fundo de US$ 100 milhões (R$ 520 milhões) que contou com o apoio do astrofísico Stephen Hawking na época de seu lançamento (2015).
Segundo o diário britânico The Guardian, o Breakthrough Listen publicará um relatório sobre os sinais de rádio detectados na Austrália nos próximos meses.
Gómez indica que até agora não há muitas informações na comunidade científica sobre os resultados das pesquisas. Há cada vez mais cientistas que defendem uma busca mais séria por vida extraterrestre.
Pallab Ghosh, jornalista de ciência da BBC, relatou em fevereiro de 2020 que esse foi um dos pedidos feitos em uma reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Seattle.
Naquela ocasião, o diretor do Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA, Anthony Beasley, afirmou que deveria haver mais apoio do governo americano para esse campo de pesquisas, rejeitado por décadas pelos financiadores dos projetos governamentais.
A Nasa também tem seus projetos sobre isso e foi além da observação astronômica. Em julho a agência lançou a missão do robô explorador Perseverance para buscar vestígios de vida em Marte.
Esta é a primeira missão da Nasa que procura diretamente "assinaturas" ou sinais biológicos de vida desde a missão Viking, na década de 1970. Justamente nessa época se enviou o primeiro sinal da Terra para tentar contactar possíveis civilizações no espaço. Gómez explica que todos esses projetos são relevates porque, ainda que se encontre somente bactérias ou micróbios em outros planetas, pode ser uma das notícias científicas mais importantes da história.
"Essa é nossa maior inquietação. O fato de poder existir qualquer forma de vida e a encontrarmos vai nos permitir conhecer nossas próprias origens e como a vida pode se desenvolver. Basicamente é a pergunta final de nossa existência", conclui.