Que tal experimentar uma Bruschetta chamada de ora-pro-bugs, preparada com ora-pro-nobis e maionese com besouros na fase jovem? O que acha de se aventurar experimentando grilos, pequenos besouros e besouros gigantes? A comemoração do Dia das Crianças será recheada de delícias nutritivas, mas que sofrem certo preconceito, principalmente dos adultos. No dia 12 de outubro, em São Paulo, Capital, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo levará o bugs cook (cozinheiro de insetos), Casé Oliveira, ao Planeta Inseto, único zoológico de insetos do Brasil, para mostrar que esses bichinhos também podem estar na alimentação. O evento é gratuito e acontece das 10h às 14h.
“A mostra Planeta Inseto tem o objetivo de apresentar como os insetos estão presentes no dia a dia, tanto no ambiente urbano, como no ambiente rural. Temos trabalhado também para mostrar que eles já são e podem ser inseridos na alimentação humana. No Planeta Inseto explicamos o que é a antropoentomofagia, ou seja, a alimentação humana por insetos. Neste evento, o público terá oportunidade de ver na prática e ter uma experiência gastronômica”, afirma Harumi Hojo, pesquisadora do Instituto Biológico (IB-APTA) e coordenadora do Planeta Inseto.
A ação, organizada pelo IB, órgão que coordena o Planeta Inseto, busca quebrar o tabu alimentar atual e mostrar que os insetos já estão inseridos em alimentos consumidos em todo o mundo -- inclusive no Brasil --, que são gostosos e uma excelente fonte de nutrientes. No mundo existem, aproximadamente, 1.800 espécies de insetos que são utilizadas como alimento por populações humanas, sendo 100 espécies conhecidas no Brasil. As espécies criadas mais comuns e usadas na alimentação são os besouros tenébrios, grilos, baratas-douradas e barata-de-Madagascar.
"A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) lançou em 2013 um programa em que orienta a população a comer insetos como forma de combater a fome e promover a segurança alimentar. Os insetos são de alto valor biológico e são participantes da gastronomia sustentável. Queremos no evento do Planeta Inseto desmitificar e mostrar que também podem ser gostosos”, afirma Antonio Batista Filho, coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
O bugs cook, Casé Oliveira, explica que as crianças se mostram mais abertas a experimentar coisas novas, mas muitas vezes são influenciadas pela cara feia dos pais. “Fizemos um evento em setembro no IB e um garotinho veio experimentar um inseto, mas foi desencorajado pelos adultos que não queriam provar e estavam por perto. Depois ele voltou, experimentou e gritou: ‘é gostoso’, levando todos a dar gargalhada”, conta o primeiro cozinheiro de insetos com antenas no Brasil.
Casé Oliveira explica que os insetos têm alto valor biológico, são ricos em proteína, ferro, fibras solúveis e insolúveis, além de gorduras boas. “O grilo, por exemplo, possui 48% de proteína, enquanto a carne de frango possui 23% e a bovina 20%. A produção de insetos também é bastante sustentável. Com um quilo e meio de ração é possível produzir um quilo de insetos. A criação de insetos também não precisa da oferta de água e a quantidade de excremento gerada é baixa e pode ser usada diretamente no cultivo de plantas, não sendo necessário curtir o esterco, como ocorre com o excremento de bovinos”, afirma.
Dois bilhões de pessoas no mundo se alimentam de insetos na principal refeição
Aproximadamente, dois bilhões de pessoas no mundo se alimentam de insetos de forma oficial, ou seja, em sua refeição principal, segundo Casé Oliveira. Além disso, grande parte dos produtos industrializados de coloração vermelha ou rosa são pigmentados de forma orgânica com a cochonilha, inseto fonte de extração natural da cor carmim. É possível encontrar ovos de insetos em alimentos como feijão, farinha e grãos em geral.
Na gastronomia os insetos tem conquistado cada vez mais espaço. O dinamarquês Noma, considerado um dos melhores restaurantes do mundo, já teve em seu cardápio esses bichinhos, que também são preparados na mais famosa rede de ensino da culinária, a Le Cordon Bleu. No Brasil, eles estão no cardápio do restaurante D.O.M, comandado por Alex Atala, que coloca formigas até mesmo em cookies. Chefes como Olivier Anquier também ensinam preparações com formigas tanajuras.
“Os chefes buscam popularizar o consumo de insetos por meio da mídia e de eventos gastronômicos. Devemos lembrar que o consumo de inseto é algo ligado à tradição brasileira. Na região amazônica e no Nordeste é comum o consumo de tanajura e do gongo, um inseto da palma. O escritor Monteiro Lobato, por exemplo, chamou em seu livro A Barca de Greyre a tanajura como o caviar do Vale do Paraíba e o gafanhoto como o camarão dos céus”, conta Casé Oliveira.
Planeta Inseto
O Instituto Biológico (IB-APTA) mantém em São Paulo a exposição permanente Planeta Inseto, único zoológico de insetos do Brasil. A mostra tem como público-alvo crianças e adolescentes de três a 16 anos, mas recebe visitantes de todas as idades. O público pode acompanhar mais de 25 atrações, como quatro espécies de abelhas sem ferrão, baratas praticando corrida, lagartas tecendo fios de seda, formigas trabalhando em sistema organizado e o bicho-pau, que se assemelha a gravetos.
As visitas são acompanhadas por monitores treinados e os visitantes -- se quiserem -- podem pegar alguns insetos, como a Barata de Madagascar e o bicho-pau, por exemplo. O espaço também conta com um laboratório de ciências, equipado com três microscópios para que os visitantes visualizem de forma ampliada alguns organismos utilizados para combater pragas na agricultura, tecnologia chamada de controle biológico e painel para mostrar o que é e o que não é inseto.