O fechamento das cervejarias no México, decretado pelo governo diante da crise sanitária da pandemia do novo coronavírus, provocou desabastecimento nas mercearias do país, que são obrigadas a colocar um cartaz de "não temos cerveja", o que tem feito seu movimento despencar pela metade. Informações do R7.
"Não temos cerveja porque não há produção, as fábricas foram fechadas por conta da doença", explicou à agência EFE Emílio, que é gerente de uma pequena loja de conveniência no populoso distrito de Iztapalapa, na zona leste da Cidade do México.
Antes da pandemia, a distribuidora de cerveja descarregava produtos na loja de Emílio três vezes por semana, mas agora nem passa mais. Nesse lugar, só restam algumas latas das marcas menos vendidas.
A poucas quadras dali, Alejandro tem um depósito de onde distribui bebidas para 150 estabelecimentos na região. Passou de vender 1000 caixas de cerveja por semana para mais um cartaz de "não temos cerveja".
"Isso nos prejudica muito, porque o que mais vendemos é cerveja. Como não temos agora, é um problema. Apenas no meu negócio, somos oito famílias que dependem disso", contou ele, entre montanhas de garrafas vazias.
Quando as grandes cervejarias, Grupo Modelo e Heineken, fecharam suas fábricas, acreditasva-se que elas teriam estoque suficiente para abastecer o país durante o mês de abril, mas um novo decreto do governo as obrigou a parar a produção também durante maio
"Está acontecendo o que era mais ou menos óbvio. Os estoques que havia no comércio está se esgotando e não há produção nova", explicou em uma entrevista por telefone Cuauhtémoc Rivera, presidente da Aliança Nacional de Pequenos Comerciantes (ANPEC).
Essa escassez também pode ser vista nos grandes supermercados, que começam a encher suas prateleiras de cervejas com outros produtos, com o medo de que não haverá reposição dos produtos pelo menos até junho.
Apesar da escassez de cerveja ainda não ser total, as marcas mais consumidas já estão difíceis de se encontrar e comerciantes denunciam que nas grandes adegas, que ainda têm estoque, o preço para comprar cervejas aumentou em torno de 30%.
"Antes comprava uma caixa por 380 pesos (cerca de R$ 86), agora não consigo por menos de 600 pesos (cerca de R$ 136). Então, já não estou vendendo tanto", explicou Omar, um rapaz que vende micheladas (cervejas preparadas com sal, limão e uma mistura de pimenta e páprica) em um quiosque.
O amor do México pela cerveja
A relação dos mexicanos com a cerveja é tão forte que no início da pandemia alguns comércios registraram compras de pânico da bebida, por medo de que ela acabasse.
De fato, alguns distritos da Cidade do México restringiram a venda de álcool nos fins de semana para dissuadir a realização de festas e evitar que a quarentena fosse fragilizada.
No país das micheladas (um coquetel feito de cerveja, suco de limão, molhos variados, temperos, suco de tomate e chili), cerca de metade da população — 65 milhões de mexicanos — bebe cerveja, com um consumo anual de 68 litros por pessoa, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi).
Cervejarias buscam alternativas
Diante dessa restrição, as grandes cervejarias já assumiram a impossibilidade de produzir e centram seus esforços em lançar iniciativas para reduzir os efeitos da crise para seus clientes, tanto consumidores quanto lojas e restaurantes.
"Nós estamos cumprindo com tudo o que nos foi pedido e vamos continuar assim. Estamos comprometidos em ajudar o México", disse à EFE Clarissa Pantoja, diretora da marca Corona, do Grupo Modelo.
Ela explicou que a empresa colocou em funcionasmento uma plataforma digital chamada "Lojinha Próxima", com 12 mil mercearias registradas para que os cidadãos possam pedir seus produtos pela internet e retirar nelas.
Tanto o Grupo Modelo como a Heineken anunciaram a entrega de máscaras e álcool em gel para os funcionários de saúde que atendem os casos de covid-19.