A deficiência visual provocada por uma doença congênita nunca impediu Sara Bentes de se realizar no universo das artes. Desde criança, o desenho e a música funcionaram como um escudo para enfrentar o bullying e a baixa autoestima. Aos 27 anos, um erro médico deixou a fluminense completamente cega.
A dor de não enxergar ganhou contornos mais dramáticos quando o namorado morreu, vítima de um AVC. Baseada em sua própria trajetória, Sara escreveu "E Não Se Esqueçam de Regar os Girassóis", romance que acaba de ser premiado e a lançou na carreira de escritora.
"Nasci com glaucoma congênito, uma doença rara que provoca aumento da pressão dentro do olho por causa do acúmulo de líquido. Até os 3 anos, não enxergava nada, e, para a medicina convencional, essa é uma condição irreversível", contou ela.
"Os médicos nunca souberam explicar, mas ainda na infância recuperei 5% da visão em cada olho. Via cores, formas e contornos, mas não conseguia distinguir detalhes. Mesmo assim, tinha grande interesse pelas artes e adorava desenhar. Minha mãe conta que, aos 2 anos, numa época em que já passava por uma série de cirurgias – foram 17 ao longo da vida –, voltava da anestesia geral e só queria cantar".
"Minha cidade natal, Volta Redonda, no interior do Rio, não possuía escolas especiais para cegos e meus pais me matricularam em uma próxima de casa. Minha inclusão ocorreu na marra, com minha mãe tendo conversas com diretores e coordenadores que não sabiam lidar com uma aluna diferente", disse.