Na noite de 2 de junho de 2002, o então jornalista da TV Globo, Tim Lopes, foi até um baile funk na favela Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, Rio de Janeiro, com uma pequena câmera escondida para denunciar o abuso sexual de menores e o tráfico de drogas no lugar. Descoberto pelos traficantes do local, Tim foi sequestrado e levado para a Favela da Grota, localizada no Complexo do Alemão.
No lugar, ele conheceu o líder do grupo, Elias Maluco. O chefe da quadrilha não quis deixar barato o fato do jornalista estar gravando as ações ilícitas que praticavam. O apelido não é a toa: depois de torturar o jornalista queimando seus olhos com cigarros, Elias o assassinou com uma espada samurai, esquartejando-o e queimando seus pedaços dentro de um pneu.
O crime gerou grande repercussão, e Elias Pereira da Silva tornou-se um dos homens mais procurados do país. A polícia iniciou a chamada “Operação Sufoco”, cercando todas as saídas do Complexo do Alemão para tentar captura-lo. Depois de 50 horas de cerco a comunidade, o traficante, membro da facção Comando Vermelho, foi capturado sem resistir à prisão. Maluco foi condenado a 13 anos de prisão por associação criminosa com o tráfico de drogas.
Líder dentro da prisão
Mesmo após receber a sentença de 18 e 28 anos por outros processos subsequentes somados as penas do caso Tim Lopes, Maluco comandou, de dentro da penitenciária, queimas de ônibus e ataques a delegacias no ano de 2006, resultando na morte de 19 pessoas. Em novembro de 2010, seu convívio com outro líder do crime na prisão, Marcinho VP, motivou Elias a ordenar uma nova onda de violência no Rio de Janeiro.
Mesmo com mais de 60 mortes atribuídas a ele, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, concedeu o habeas corpus para Elias. Porém, ele continuou preso devido as suas duas outras condenações. Poucos meses depois, a medida foi derrubada pelo mesmo Tribunal. Graças a sua influência no crime organizado, o traficante foi transferido diversas vezes para outros presídios, de maneira que sua comunicação com o mundo exterior fosse bloqueada.
A primeira transição foi em janeiro de 2007, quando Elias foi retirado de Bangu I — penitenciária que o abrigava desde a captura — e foi mandado para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná, em decorrência das queimas e ataques no ano anterior. Em 2010, devido aos novos ataques, foi transferido junto a Marcinho VP para a Penitenciária Federal de Porto Velho, e no ano seguinte, para Presídio Federal de Campo Grande, antes de retornar para Catanduvas, onde cumpriria os últimos anos de pena.
Últimos anos
A equipe de advogados do criminoso tentou, nos últimos anos, desarquivar o caso do assassinato de Tim Lopes com o intuito de provar a inocência do cliente. Após receber a autorização do Conselho Federal da OAB investigar por conta própria, em 2019, o ponto dos defensores era a ossada do jornalista, que poderia ter sido averiguada de maneira rápida e sem os modernos equipamentos de identificação disponíveis atualmente.
A advogada Alexandra Oliveira Menezes era responsável por defender Elias e acrescentou que havia a possibilidade do morro não ter sinal de telefone na época para Elias ordenar tal crime: "Julgamentos como o que condenou o Elias costumam levar o dobro do tempo. Há detalhes do processo que não foram explorados. Vamos remexer com uma história que já estava enterrada”.
A nova investigação foi paralisada na tarde de 22 de setembro de 2020, quando Elias Maluco foi encontrado morto na Penitenciária Federal de Catanduvas. O corpo possuía sinais de enforcamento, porém, a causa da morte não foi confirmada pela nota oficial do Depen: “O Depen informa, ainda, que preza pelo irrestrito cumprimento da Lei de Execução Penal e que todas as assistências previstas no normativo são garantidas aos privados de liberdade que se encontram custodiados no Sistema Penitenciário Federal”.