Jovem que criou a 'Amazon' das drogas ganhou duas séries na Netflix

Faculdade, primeiro emprego, o começo da vida adulta, parecem alguns caminhos para jovens de 19 anos, mas esse alemão resolveu virar um traficante pela internet

Jovem | reprodução
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Maximilian Schmidt, aos 19 anos, era basicamente o CEO de um império de drogas online e comandava o negócio diretamente do quarto de infância, na casa de sua mãe, na região de Leipzig, na Alemanha. O curioso é que, normalmente, quando um caso de tráfico de drogas vem a público, é porque a operação foi descoberta pela polícia. E foi exatamente o que aconteceu: o traficante de 19 anos viu seu império ruir e acabou preso.

Maximilian foi condenado pela venda de 914 quilos de drogas pela deep web e web comum pela justiça alemã e sentenciado a sete anos de prisão. Estimativas da polícia mostram que, de dezembro de 2013 até sua prisão em 26 de fevereiro de 2015, o jovem recebeu cerca de 4,5 milhões de euros em Bitcoin - e boa parte dessa quantia, escondida em diversas carteiras digitais, sequer foi encontrada.

Jovem que comandava tráfico online ganhou duas séries na Netflix

Shiny Flakes, a "Amazon" das drogas na Europa

Shiny Flakes (flocos brilhantes, na tradução livre), pode parecer um nome inocente, mas era basicamente um dos domínios ilegais mais acessados na Alemanha e em algumas regiões da Europa.

Graças aos seus conhecimentos tecnológicos avançados em programação e ao seu dom para compreender os hábitos dos consumidores, Max tornou-se, com o Shiny Flakes, num dos maiores traficantes de droga da Alemanha, lucrando milhões em bitcoin e deixando pouquíssimos rastros, já que o seu modelo de anonimato em todas as partes de operacionalização do processo funcionava bem.

Diretamente do seu quarto, Max era o responsável por gerenciar o site, conversar com clientes, combinar entrega com fornecedores, embalar as drogas e, mais importante ainda, manter toda essa operação por debaixo dos panos.

Cocaína, metanfetamina e maconha eram os principais produtos vendidos por meio de seu site Shiny Flakes, embora outras drogas sintéticas como MDMA, ecstasy e LSD também estivessem no "cardápio" do site. Max ainda se utilizava do serviço postal nacional alemão para enviar as mercadorias aos compradores. E, como todo negócio ilegal, Max tinha uma empresa de fachada de web design para lavar o dinheiro do tráfico.

Embora promissor, o negócio de Max foi ruindo pouco a pouco graças a alguns descuidos cometidos em partes fundamentais do processo. Além de alguns erros informáticos que não garantiram a total anonimidade do dono do site, Max foi pego, em grande parte, após escrever os dados errados do destinatário em um dos pacotes com droga e, mesmo na condição de anonimato na internet, acabar falando demais.

O produto acabou não chegando a lugar nenhum e posteriormente foi aberto pelos funcionários do serviço postal, que acharam a droga e acionaram a polícia - que nesse momento já estava ciente de um negócio digital de drogas, embora não desconfiasse que um adolescente estivesse por trás disso.

Maximilian cometeu outro erro fundamental, ao usar muitas vezes as mesmas estações de correio. Ou seja, a polícia apenas precisou fazer uma campana nessa estação do correio que, uma hora ou outra, o traficante apareceria lá. Para fazerem o teste, os agentes encomendaram drogas e conseguiram apreender 40 quilos de substâncias ilegais ao interceptar os pacotes. Max, então, foi preso em flagrante.

Quando chegaram à casa de Maximilian, esperaram para o apanharem em flagrante delito numa compra de drogas a um fornecedor, e depois confrontaram-no com aquilo que tinham acabado de ver.

Além disso, o sucesso no digital parece ter sido demais para a cabeça do jovem. Contrariando qualquer lei do crime, ele foi à mídia para se expor voluntariamente.

Em 2014, o jovem deu uma entrevista ao portal Vice. Embora tenha mantido o anonimato na entrevista, ele confirmou que morava na Alemanha, um erro grande, já que a polícia de vários países da Europa já investigavam o Shiny Flakes. Ele gabou-se ainda de que sua loja online vendia uma "seleção exclusiva de pílulas", mas disse que usou análises estatísticas de "clientes e hábitos de compra" para maximizar as vendas.

De traficante a estrela da Netflix

A curiosa história do jovem criminoso digital foi a grande inspiração para a produção da série How to Sell Drugs Online (Fast) (Como vender drogas online rápido, na tradução livre), da Netflix. Com uma liberdade de roteiro, Maximilian torna-se o jovem Moritz (interpretado por Maximilian Mundt) que, junto com seu amigo Lenny (Danilo Kamber), criam o MyDrugs.com, apenas para que Moritz possa reconquistar sua namorada, que após um intercambio nos EUA, começa a se interessar pelas drogas sintéticas.

A série avança por temas que não necessariamente são fidedignos à história do real Maximilian, mas servem para dar continuidade narrativa para a série. Um fato interessante é que, por ser considerado menor de idade na Alemanha, Maximilian não cumpre uma pena como um condenado comum. Max pode deixar a prisão durante o dia e, depois de saber que sua história estava sendo transformada em uma série da Netflix, ele literalmente apareceu no set de produção e chegou a dar consultorias para os diretores para explicar com detalhes como trabalhava.

“Achamos que ele estava inventando, mas era ele”, disse o criador do show Matthias Murmann. “Foi interessante entender a mentalidade dele.”

Mesmo com o estigma de série "teen" que aborda um tema mais polêmico, How to Sell Drugs Online (Fast) foi um sucesso e já conta com três temporadas completas no streaming vermelho. Para aproveitar o embalo, a Netlfix lançou uma segunda obra sobre a vida de Max: o documentário Shiny Flakes: The Teenage Drug Lord (Flocos Brilhantes, o adolescente barão das drogas, em tradução livre) conta a história real da vida de Max no tráfico, onde o mesmo fala pela primeira vez à mídia sobre o negócio ao estilo da Amazon que o levou a ser preso.

No trailer do documentário, ele explica seu modelo de negócios simples que fez seus milhões. “As pessoas pagavam adiantado, depois era processado e só depois eu despachava”, diz ele. "Era como vender sapatos, mas são drogas."

Além da versão de Max, o documentário conta com depoimentos de investigadores ligados ao caso e reconstituições que relembram a prisão do traficante.

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