Jornalista abre salão e incentiva pessoas assumirem cabelos crespos

Segundo ela, este era um nicho totalmente desprezado pelo mercado

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Se assumir é o maior grito de liberdade dos últimos tempos e a mudança começa de dentro para se espelhar do lado de fora de cada um. Foi assim que a jornalista Sabrinah Giampá resolveu se enrolar em seus cachos após 30 anos de alisamento e ter um caso de amor consigo mesma. Este foi o primeiro passo para incentivar outras mulheres e a ideia agradou tanto, que ela acabou abrindo um salão de beleza especializado em cabelos enrolados e crespos.

“Eu criei o Cachos e Fatos com o intuito de ajudar outras mulheres a assumirem seus cabelos naturais, indo na contramão da cultura do longo e liso, que a sociedade nos impõe desde a mais tenra infância”, contou.

Depois de colocar a mão na massa, se apaixonou e ganhou mais uma profissão e causa para a vida. Segundo ela, este era um nicho totalmente desprezado pelo mercado e durante o percurso notou também o quanto mulheres que alisavam o cabelo sofriam para se livrar da química.

“O cenário social e o mercado da beleza pareciam ainda mais amedrontadores para estas, pois eram tachadas de desleixadas, às vezes pelo próprio cabeleireiro. Ninguém compreendia de fato como uma mulher poderia desejar ter os fios crespos. Era como se elas tivessem escancarando uma anomalia genética que agrediria esteticamente uma sociedade que busca uma hegemonia branca e lisa, o racismo velado do Brasil”, argumentou.

E realmente, dentro das pressões impostas ao público feminino, muitas vezes o volume, o frizz e qualquer coisa que não esteja em seu “devido lugar” atrai olhares tortos. Mas a luta ganhou novos rumos; ao invés de lutar com o pente ou contra o espelho, agora a luta é um ato político, por não só assumir o cabelo natural, mas ir contra as premissas de uma sociedade ainda atrasada em seu discurso e postura.

“O preconceito contra o cabelo cacheado e crespo no Brasil está diretamente ligado ao preconceito étnico-racial. Ou seja, quanto mais crespo o seu cabelo, mais próximo da cultura negra você está, então mais repudiado você será. Isso é muito triste, mas ainda está longe de deixar de ser uma realidade.”

Essa realidade é tão dura, que até mesmo para aprender a profissão Sabrinah se deparou com um cenário, no mínimo, bizarro: a falta de bonecas com cabelos crespos durante as aulas. Ou seja, como que os cabeleireiros vão saber lidar e cuidar deste tipo de cabelo? Para ela, isso torna o cabelo cacheado e crespo ainda mais estigmatizado para os próprios profissionais.

No salão que montou, chamado Garagem dos Cachos – instalado na garagem de casa -, oferece os serviços direcionados principalmente para a classe C, incluindo corte e ritual Deva Curl, que inclui higienização e hidratação da marca criadora da técnica No Poo e Low Poo, feitas com ou sem shampoo. “Não faço apenas um corte, eu ajudo estas mulheres a se despirem de todos os preconceitos enraizados e descobrirem que sua real beleza é muito maior que os padrões estabelecidos”, pontua.

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