Uma petição online dirigida ao Ministério Público do Distrito Federal pede providências contra uma loja de decoração que comercializa imagens de santos caracterizados como personagens de histórias em quadrinhos. A estátua de Nossa Senhora, por exemplo, ganhou versões do Batman, Mulher Maravilha, Malévola, Frida Kahlo, David Bowie, Galinha Pintadinha e Minnie.
Para um grupo de católicos, a iniciativa fere o artigo 208 do Código Penal, que fala sobre crimes contra o sentimento religioso. A responsável pela esculturas, Ana Smile, afirmou ter crescido dentro da igreja e não o fato de criar imagens diferentes um crime.
No documento, o grupo diz ver o trabalho como sátira à fé católica. “As características fundamentais destas estatuetas foram dadas pela Igreja Católica há pelo menos alguns milhares de anos. O seu uso indevido, além de ser contra a ética, constitui-se como um ato de violência à dita Instituição, bem como ao meu sentimento religioso”, diz o texto.
Para Ana, as chances de a petição evoluir em punição são pequenas. Ela começou com o trabalho há quase três anos, por acaso. " Vi na internet um meme com a expressão “Nossa Senhora de Bátima, achei incrível, fui pesquisar se achava algo do tipo para vender e quis uma imagem dessa para mim, para decorar minha casa.”
Amigos de Ana viram o “santo estilizado” e passaram a encomendar peças. O trabalho foi crescendo com o boca a boca. Há um ano, ela decidiu criar uma página em redes sociais para divulgar as imagens. Os objetos têm entre 30 centímetros e 55 centímetros. Os preços variam de R$ 200 a R$ 400. As vendas são feitas pela web ou em uma loja fisica.
As peças são feitas com base em cinco santos: São Benedito, Santo Antônio, São Judas, Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa Senhora das Graças. A confecção das estatuetas leva cerca de duas semanas.A artista plástica compra os santos em gesso, os lixa e os molda em casa. Depois, seca, laqueia, pinta e enverniza. Ela diz que consegue fazer no máximo cinco estatuetas ao mesmo tempo. As imagens já foram encomendadas por todos os estados brasileiros e até exportadas para Nova York.
“Fiz só uma exposição até hoje. Foi no fim do ano, no ‘Picnik’. As críticas que ouvi no dia foram educadas”, lembra. “Tem três ou quatro dias que alguém passou na loja e não gostou. Tinha uma peça minha na vitrine. Entrou, reclamou, chamou gerente, mandou e-mail para o dono da loja, criticaram de todas as formas. Tenho WhatsApp e pessoas me xingam, desmerecendo meu trabalho. Tanto falando da forma mais educada e da mais grosseira também.”
Ana estava ignorando as mensagens, mas que decidiu se posicionar pela primeira vez. Ela conta que cresceu dentro da igreja, fez primeira comunhão e crisma e acredita em Deus. Atualmente, a mulher se define espírita.
"A intenção sempre foi um trabalho artístico, de humor mesmo, nunca de forma a denegrir ou desrespeitar qualquer crença. Não acho nem acredito que eu esteja agredindo ninguém. Estou recebendo muito apoio. A maioria das pessoas que está do lado vê com bom humor isso tudo, não vê como possível problema ou nada que me ofenda ou vá me prejudicar de alguma forma. Eu sinceramente estou meio apática a isso tudo, de em pleno 2016 ter pessoas que não consigam separar religião e arte ou não consigam respeitar pessoas com interesses diferentes”, completa.