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Homem que esperava 5 órgãos de mesmo doador consegue transplante após 4 anos

Brasiliense de 35 anos passa por cirurgia multivisceral em SP; procedimento envolve estômago, pâncreas, fígado, intestino e rim, todos do mesmo doador.

Luiz Perillo, que conseguiu o transplante de cinco órgãos, chegou a 34 kg | Foto: Arquivo pessoal
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Depois de quatro anos na fila, enfrentando hemodiálises, nutrição parenteral e internações prolongadas, o arquiteto brasiliense Luiz Perillo, de 35 anos, conseguiu um doador compatível para o transplante multivisceral, considerado um dos mais complexos da medicina.

A cirurgia foi marcada para a tarde desta terça-feira (23), em São Paulo, após a confirmação de que os cinco órgãos necessários, estômago, pâncreas, fígado, intestino e rim, estavam íntegros e compatíveis. Todos vieram de um único doador, condição essencial para reduzir o risco de rejeição.

‘É como um milagre’

A mãe do paciente, Jussara Martins, de 60 anos, relatou a emoção da notícia:

“Às 4h da manhã eu recebi uma ligação e fui informada de que havia um provável doador. Depois vieram os exames e, quando confirmaram a compatibilidade, parecia um sonho. Depois de tanto tempo de espera, é como um milagre acontecendo diante dos meus olhos”, disse.

Ela lembra que os últimos anos foram de incertezas:

“Todos os dias os médicos me alertavam que poderia ser o último dia de vida dele. Luiz chegou a pesar 34 kg, com sarcopenia crônica. Para uma mãe, é como se o chão desaparecesse. Ainda assim, eu precisava ser montanha, porque um filho sempre busca força na mãe.”

O desafio até a cirurgia

Luiz descobriu a trombofilia aos 20 anos, quando teve a primeira trombose. A doença comprometeu a veia porta, essencial ao sistema digestivo, e levou seus órgãos à falência. Ele perdeu intestino, estômago, fígado, pâncreas e rim.

Em 2021, começou um período de dois anos e quatro meses de internação contínua. Sobreviveu com nutrição parenteral por 13 horas diárias e três sessões semanais de hemodiálise. Mesmo debilitado, manteve exercícios físicos para preservar músculos e aumentar as chances de sucesso na cirurgia.

“O exercício físico salvou a vida dele. Ele sabia que precisava ter músculos mais fortalecidos para conseguir passar pelo transplante”, contou Jussara.

Avanço no SUS

Até fevereiro, o transplante multivisceral não estava incluído no protocolo do SUS. A incorporação garantiu orçamento específico e abriu caminho para habilitar novos centros. Hoje, cinco hospitais realizam o procedimento, quatro em São Paulo e um no Rio Grande do Sul.

O médico Rafael Pinheiro, referência na área, lembra que o transplante pode custar até dez vezes mais que um convencional. Para ele, a inclusão no SUS é “uma conquista histórica” para pacientes e profissionais de saúde.

Uma nova chance

Com a cirurgia, Luiz se torna um dos primeiros beneficiados pela nova política pública. No Brasil, seis pessoas ainda aguardam por um transplante multivisceral. Em 2024, o país registrou 9,4 mil transplantes, mas apenas dois desse tipo.

“Eu sempre soube que esse dia chegaria. Aprendemos a não criar expectativas para não sofrer, mas hoje a esperança virou realidade”, disse Jussara.

Como doar órgãos?

No Brasil, a doação só ocorre com autorização da família. Por isso, especialistas reforçam a importância de manifestar em vida essa decisão. Atualmente, há duas formas oficiais:

  • Carteira de Identidade: no novo RG é possível registrar no verso a opção de doar órgãos.
  • Autorização Eletrônica: disponível no site www.aedo.org.br, onde o interessado preenche um formulário e confirma os dados em videoconferência com cartório.

A decisão é gratuita e tem validade oficial.

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