Os pesquisadores da Fundação Nacional do Índio (Funai) acompanharam, durante 22 anos, os passos de um homem à distância: para não interferirem em suas particularidades sociais e culturais, os funcionários não trocaram uma palavra sequer com aquele que seria apelidado como o "índio do buraco". Ele seria o homem "mais solitário do mundo".
Sua história é um retrato da violência histórica contra os indígenas: ao chegarem no estado de Rondônia na década de 1980, fazendeiros e seus capangas atacavam e assassinavam as populações que viviam na região e ainda se mantinham isoladas. Após um ataque contra sua tribo em 1995, o homem ficou só. Durante mais de duas décadas, percorreu as florestas e se tornou o último remanescente do povo Tanaru.
A impactante história foi divulgada pela Funai, que publicou um vídeo gravado à distância exibindo o homem em meio à floresta. Durante as décadas de isolamento, os funcionários da fundação mantiveram-se alertas para preservar o que restou da terra indígena Tanaru e impedir que o "índio do buraco" sofresse qualquer tipo de assédio de curiosos ou fosse ameaçado por interessados em explorar as terras. Delimitada em 2015, a área indígena Tanaru possui 8 mil hectares.
Após o primeiro registro do homem, em 1996, a Funai tentou manter contato, mas constatou que ele não estava interessado. Para auxilia-lo, os funcionários deixaram algumas ferramentas e sementes próximas aos locais onde ele passa, além de registrar alguns de seus hábitos à distância.