Do alto do pico Ibituruna, no interior de Minas Gerais, o húngaro Thomas Antallfy, 54, se lançou em um voo de parapente do qual guarda poucas memórias. Daquela quinta-feira de fevereiro, o empresário diz ter apenas flashes. Ele se lembra de estar voando a 50 km por hora, quando de repente bateu contra um paredão. Thomas desmaiou e desabou em queda livre.
Nas 14 horas seguintes, ele ficou inconsciente. Até que despertou em meio a arbustos e não viu ninguém por perto para pedir ajuda. "Eu levantei e tirei uma selfie. Eu poderia ter ligado para alguém, mas minha cabeça não estava funcionando direito", relatou o empresário em entrevista. Àquela hora ele não sabia, mas havia sofrido fraturas por todo o corpo, inclusive no crânio.
Thomas, radicado em Londres, pratica o parapente há 20 anos e já pilotou em sete países diferentes. Entusiastas do esporte de aventura costumam vir até a região de Governador Valadares, no interior de Minas, em busca de "ventos ascendentes". O ar é favorável para voos longos e sem turbulência, explica Abel Couto, diretor da Associação de Voo Livre Ibituruna. O teto -- a altura atingida em voo -- varia entre 1.800 a 2.500 metros, tendo alguns registros de 3000 metros.
O húngaro continua no Brasil 33 dias depois do acidente. Thomas não sabe o que fez de errado para cair do céu. Só sabe dizer a que horas aconteceu o acidente porque fez fotos no caminho da rampa do salto, por volta das 16h de 23 de fevereiro, e quando acordou da queda, aproximadamente, às 6h do dia seguinte.
Na selfie, Thomas viu que tinha os olhos roxos e inchados. Lembra apenas que sentia uma dor intensa no ombro direito. De maneira automática, o húngaro adotou o mesmo ritual dos outros voos, como se tivesse feito um pouso normal. Botou o parapente de 20 quilos nas costas e caminhou 300 metros para pedir carona de volta para o albergue em Governador Valadares. "Eu não tive aquele sentimento de ter sobrevivido. Eu apenas pensei na próxima coisa a se fazer", contou.