A infância e juventude do príncipe Philip, que veio a óbito aos 99 anos nesta sexta (09), foi repleta de obstáculos. Fuga numa caixa de frutos, separação paterna, acidentes de avião, doença materna e proximidade com os nazistas são apenas alguns dos episódios a serem citados. Philip era grego e possuía ascendência dinamarquesa, sendo descendente direto da rainha Vitória.
Philip nasceu na Ilha Grega de Corfu, que faz fronteira com a Albânia; ele era o único filho homem e possuía mais quatro irmãs. Seu pai, o príncipe André, era irmão do rei Constantino da Grécia.
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O menino tinha 18 meses quando a Grécia perdeu uma guerra para a Turquia, e André acabou preso, acusado de traição e condenado à morte. O pai de Philip então fugiu para Paris com a família: a mulher, a princesa de origem anglo-germânica Alice de Battenberg, as quatro filhas mais velhas —Margarita, Theodora, Cecilie e Sophie— e Philip. Segundo um biógrafo, o bebê foi levado numa caixa de laranjas.
Apesar de reinar sobre a Grécia, a família de André tinha origem russa e dinamarquesa, da dinastia Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glucksburg. Alice, cuja família alemã havia adotado o sobrenome britânico Mountbatten, era bisneta da rainha Vitória, e o inglês foi a primeira língua de Philip.
Com nove anos, o menino foi mandado a uma escola interna na Inglaterra, ao mesmo tempo em que sua família era sacudida por uma segunda tormenta. Alice recebeu o diagnóstico de esquizofrenia após um surto psicótico e foi internada num sanatório na Suíça. André instalou-se com uma amante em Mônaco, onde morreu 14 anos depois.
Philip foi mandado para a casa de sua avó materna, uma marquesa viúva que vivia no Reino Unido. Em entrevistas, contou que jamais recebeu uma visita da família nos cinco anos que passou na escola inglesa. Seu tio, lorde Mountbatten, virou sua principal referência familiar e foi muitas vezes citado como uma figura paterna.
Nesse meio tempo, Philip perdeu uma das irmãs, Cecília, morta em um acidente de avião, grávida. Com ela estavam também o marido e dois filhos. No funeral, Philip foi fotografado em meio a soldados nazistas, marcando a proximidade da família com o governo de Hitler.
Cecilie e o marido eram membros do partido nazista, e Sophie, sua irmã mais nova, casou-se com o diretor do Ministério das Forças Aéreas do Terceiro Reich. Uma terceira irmã, Margarita, era casada com um comandante do Exército alemão —que em 1944, entretanto, mudou de posição, chegando a participar de um complô fracassado contra Hitler.
Pouco antes de se tornar noivo de Elizabeth, Philip renunciou ao título de príncipe da Grécia e da Dinamarca e pediu a naturalização britânica. Em 1972, cerca de 25 anos depois, descobriu-se que uma lei do século 18 já garantia a ele a cidadania do Reino Unido, por sua ligação com a rainha Vitória.
Devido às conexões com o regime de Hitler, as irmãs de Philip não compareceram ao casamento com Elizabeth em 1947. Só sua mãe estava presente. A essa altura, já recuperada das crises mentais, ela tinha passado a viver em um convento ortodoxo grego em Atenas, onde fundou uma ordem de enfermagem formada por freiras. Durante a Segunda Guerra Mundial, protegeu diversas famílias judias —ao mesmo tempo, suas filhas se casavam com oficiais nazistas.
Com o fim da monarquia na Grécia, em 1967, foi convidada pelo filho a morar no palácio de Buckingham, onde morreu dois anos depois.