Gravidez após a perda: a filha que nasceu 15 meses depois da morte do pai

A história ganhou repercussão internacional pela carga emocional e pelas discussões éticas que suscita.

Minnie Alex Pullin nasceu em 21 de outubro de 2021 — e seu pai, Alex, faleceu em 8 de julho de 2020 | ELLIDY PULLIN Minnie Alex Pullin nasceu em 21 de outubro de 2021 — e seu pai, Alex, faleceu em 8 de julho de 2020 | Foto: ELLIDY PULLIN
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Em meio à virada do ano de 2021, enquanto o mundo celebrava novos começos, a australiana Ellidy Pullin enfrentava o peso do luto mais profundo. Aquela seria sua primeira virada de ano sem o grande amor de sua vida, o bicampeão de snowboard Alex Pullin, conhecido como Chumpy, que havia morrido meses antes em um trágico acidente de mergulho.

Mas o que parecia ser apenas o início de uma vida marcada pela ausência acabou se transformando também no começo de um novo capítulo. Quinze meses após a morte de Chumpy, Ellidy deu à luz a Minnie Alex Pullin — filha do casal, concebida por meio de uma fertilização in vitro realizada com esperma extraído do atleta horas após sua morte.

A história ganhou repercussão internacional pela carga emocional e pelas discussões éticas que suscita. Em entrevista ao programa Outlook, da BBC, Ellidy compartilhou detalhes do processo, da perda repentina e da reconstrução de sua vida.

Graças ao processo de extração de esperma, Ellidy engravidou de Alex - Foto: Ellidy Pulin

Do amor à tragédia

O romance entre Ellidy e Chumpy começou em 2013, na festa de aniversário de um amigo em comum. Foi, como ela mesma descreve, “amor à primeira vista”. Logo passaram a dividir a vida, adotaram um cachorro e começaram a tentar ter um filho — plano que acabou sendo adiado por dificuldades no processo natural de concepção.

Em julho de 2020, no entanto, tudo mudou. Chumpy, experiente no mergulho com arpão, sofreu um “apagão em águas rasas” — perda de consciência por falta de oxigênio — e nunca mais voltou à superfície. O cinto de lastro usado para manter-se submerso acabou impedindo sua flutuação, e ele foi retirado do mar já inconsciente.

A notícia abalou toda a comunidade e mergulhou Ellidy em um luto profundo. “Ainda me pergunto o que aconteceu no fundo do mar naquele dia”, contou.

Uma decisão em meio ao luto

Horas após a morte de Chumpy, uma conversa inusitada iniciaria um novo capítulo dessa história. A melhor amiga de Ellidy, ciente do desejo do casal de ter um filho, sugeriu que fosse feita a extração póstuma do esperma — um procedimento legalizado na Austrália e que precisa ser realizado dentro de 24 a 36 horas após o óbito.

A decisão foi rápida. “Assim que meu irmão me falou sobre isso, eu disse: ‘Sim, vá em frente’”, relembra Ellidy. A extração foi feita no limite do tempo viável, e o material genético foi preservado.

Por meses, o projeto de maternidade ficou em segundo plano diante da dor da perda. Mas, no fim daquele mesmo ano, a vontade de seguir com o sonho da maternidade reacendeu. “Foi como um interruptor que se acendeu dentro de mim”, disse.

Alex e Ellidy se conheceram em 2013, até a morte prematura dele - Foto: Ellidy Pulin

A chegada de Minnie

O processo de fertilização in vitro teve início no final de 2020. Na primeira tentativa, o embrião foi rejeitado. Mas na segunda, veio a notícia tão esperada: Ellidy estava grávida.

“Foi um momento surreal. Todos sabíamos que uma parte do Chumpy estava voltando à vida por meio daquela criança”, relata.

A gestação e o nascimento da menina, em 25 de outubro de 2021, marcaram um renascimento simbólico para Ellidy. “Ela era igual a ele. Os olhos, principalmente. Foi como fechar um ciclo.”

Vida após a perda

A história de Ellidy comoveu o público e abriu espaço para debates sobre reprodução assistida, luto, maternidade solo e amor pós-perda. Hoje, ela dedica parte de seu tempo a compartilhar sua experiência por meio de um podcast, onde fala abertamente sobre o processo e os desafios da maternidade após o luto.

Além da alegria pela chegada da filha, Minnie também proporcionou momentos especiais com o avô materno, que faleceu pouco depois do nascimento da neta. “Eles dormiam lado a lado. Foram semanas lindas e marcantes para mim.”

Agora, aos três anos, Minnie é o centro da vida de Ellidy, que encara a maternidade solo com resiliência e afeto. “Sinto falta do Chumpy todos os dias, mas a vida segue, cresce ao redor da dor. E hoje tenho uma missão clara: criar essa menina incrível.”

Todos os dias, ao pôr do sol, mãe e filha olham o mar. Ellidy diz à pequena Minnie que o pai está ali, sob as ondas. E quando a noite cai, promete que ele a observa do céu. “Acho que eles se encontram nos sonhos”, conclui.

As informações são da BBC

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
logo do meio.com