Fiel ajudante nos momentos em que o corpo não responde como se gostaria ou quando o sexo anal é o desejado, o lubrificante sexual está cada vez mais disseminado. Exposto com desinibição em farmácias, supermercados, motéis e sex shops, o gel tem saída regular e pode ser parceiro neste Dia dos Namorados.
"Todo dia vende, quando antigamente a saída era apenas de um por mês", conta o gerente de farmácia Luiz Marinho, 54 anos, lembrando de quando começou a trabalhar em drogarias, quarenta anos atrás. E, se antes o encabulamento dos consumidores acontecia diante da compra de um simples preservativo, imagine com um gel íntimo! "Hoje vendo pra homem, pra mulher, pro homossexual, sem vergonha alguma", diz, contando que a clientela maior do produtos são aqueles acima de 50, 60 anos.
O perfil indicado pelo gerente não é à toa. Afinal, o uso do gel íntimo é para quando se não consegue lubrificação suficiente ou para o sexo anal. Mas um novo perfil aparece nesse cenário, gerando um uso que extrapola o "necessário" e pode, na verdade, camuflar uma insatisfação. O alerta é da ginecologista e terapeuta sexual Angelina Maia, com mais de 40 anos de experiência no Hospital das Clínicas, no Recife.
A médica chama a atenção sobre o uso do gel entre jovens casais heterossexuais no caso de penetração vaginal, quando, com o hormônio estrogênio em alta, a mulher saudável não necessitaria de tal artifício como facilitador da entrada do pênis. "Infelizmente, casais jovens que não precisam lançam mão do gel para não trabalhar a excitação na mulher, geralmente vinda a partir da estimulação do clitóris", observa a terapeuta sexual, citando um círculo vicioso: não tão excitada, a mulher é penetrada com ajuda do lubrificante, e, para terminar logo, ela às vezes finge um orgasmo, gerando no parceiro a crença de que ela goza mesmo é com a penetração. "Mulher que está com estrogênio não precisa de lubrificante artificial se estiver bem excitada", assegura.
Por outro lado, devido à queda ou ausência do estrogênio, os géis íntimos, sim, são muito bem-vindos e até necessários para as mulheres na pós-menopausa que não fazem reposição hormonal, lactantes e aquelas com câncer de mama. Nesses casos, devido à queda ou ausência do estrogênio, a vagina se torna mais fina e ressecada, dificultando a penetração e causando dor e ardor na mulher. Angelina Maia conta ser comum entre os casais de meia-idade o uso do gel, também aprovado pelo homem - "Como eles, com a idade, demoram mais na relação, fica mais fácil o sexo com o uso do lubrificante", explica.
Para quem está amamentando, o lubrificante pode ser, sim, a solução ideal para a relação sexual do casal. Porque, além da queda do estrogênio, a mulher está com a prolactina em alta, inibindo o desejo sexual. Isso sem falar do cansaço e da falta de sono das mamães. "Todo obstetra deveria avisar às mulheres o que acontece com elas nesse momento", reclama a terapeuta, contando ser comum lactantes chegarem até ela reclamando da ausência de apetite sexual.
Essa comunicação entre obstetra e grávida não aconteceu para a jornalista V.D., mas ela recorreu à velha conhecida conversa íntima feminina. De uma amiga que também havia vivido o problema durante a amamentação, recebeu a dica do lubrificante. Passado o tempo necessário para recuperação do parto, ela não teve dúvida quando, com a vagina ressecada, chegou a hora de voltar à ativa sexual: mandou o marido comprar KY - o mais famoso entre os géis íntimos.
No sexo anal, o gel não somente é facilitador, como indicado. Assim como a camisinha. "Como o ânus é um canal seco, faz muito microferimentos e todo ferimento pode favorecer o HIV e o HPV", afirma a médica Angelina Maia, recomendando o uso dos dois artigos. O estudante universitário Felipe, de 23 anos, conta que não precisou comprar lubrificante - mas sempre, quando foi feito uso numa relação, era o parceiro que já estava com o gel - "Geralmente KY", conta. Segundo ele, como muitas camisinhas vêm com lubrificante, ele não vê necessidade do outro produto. Mas o indicado é mesmo usar os dois, para facilitar a penetração.
Apesar da supremacia do KY no comércio dos lubricantes - tanto que, quando a reportagem foi fotografar os lubrificantes numa drogaria no Recife, o produto já havia acabado -, há marcas variadas. E todas, segundo o gerente Luiz Marinho, à base de água. "Não existe mais à base de óleo, que antes podia romper o preservativo", observa. Reação ao uso do produto é pouca, mas existe - "No caso de o cliente ter alergia a algum conservante do produto", conta o farmacêutico Jorge Arthur, explicando que, na maioria das vezes, o conservante só é informado pelo fabricante através de telefone, no atendimento ao consumidor.