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Gasolina ou etanol adulterados? Veja sinais e como evitar prejuízos

Operação expõe esquema bilionário ligado ao PCC; especialistas explicam os riscos do metanol e ensinam testes práticos para identificar irregularidades.

Operação expõe esquema bilionário ligado ao PCC | Foto: Reprodução/UOL
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Uma megaoperação realizada nesta quinta-feira (28) desarticulou um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis, comandado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Secretaria da Fazenda de São Paulo, o grupo teria sonegado mais de R$ 7,6 bilhões em impostos em diferentes etapas da cadeia de produção e distribuição.

Entre as práticas, estava a adulteração de combustíveis com metanol, substância altamente inflamável, tóxica e de difícil detecção. Em alguns casos, a concentração da substância chegava a 90%, quando o limite permitido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é de apenas 0,5%.

Como ocorre a adulteração

Os métodos mais comuns de fraude na gasolina envolvem:

  • Adição de mais etanol que os 30% permitidos por lei;
  • Mistura com água ou solventes, como a nafta;
  • Inclusão de metanol, com riscos graves à saúde e ao veículo.

“O metanol tem alta capacidade de combustão, a água não. Além disso, nos testes a água separa totalmente do combustível, o metanol não”, explica Tenório Júnior, técnico e professor de mecânica automotiva.

Sinais de combustível adulterado

Especialistas apontam os principais indícios de que o carro foi abastecido com gasolina ou etanol fora dos padrões:

  • Acendimento de luzes no painel: “O combustível alterado faz com que sature a leitura dos sensores e faz ligar essa luz”, explica o mecânico Orli Robalo, de Porto Alegre.
  • Perda de potência imediata: “Assim que você abastece, o pedal do acelerador fica ‘borrachudo’. Você sente que precisa acelerar mais para obter a mesma velocidade”, alerta Denis Marum, mecânico e engenheiro.
  • Consumo elevado: segundo Marum, o carro pode gastar até 30% mais combustível.
  • Dificuldade de partida, principalmente pela manhã.
  • Ruído metálico no motor, semelhante ao de corrente de bicicleta em marcha.
  • Odor forte no escapamento, lembrando solvente ou querosene.

Testes que você pode fazer

A ANP e especialistas recomendam dois métodos simples para identificar combustíveis adulterados:

  • Teste da água e sal: misture 50 ml de gasolina com 50 ml de água e sal. Após 10 minutos, o etanol presente se junta à água e se separa da gasolina. O nível correto deve estar em 65 ml (considerando até 30% de etanol permitido por lei). Se for maior ou menor, o combustível está fora do padrão.
  • Teste de densidade: todo posto é obrigado a ter kits com densímetro, segundo a resolução nº 9 da ANP. O valor máximo para gasolina é 0,75425 t/m³. “Se estiver muito abaixo é sinal que tem nafta, porque a nafta é solvente e tem densidade menor”, explica Eustáquio de Castro, da Universidade Federal do Espírito Santo.

O que é o metanol?

O metanol é um composto químico produzido a partir do gás natural e usado na fabricação de adesivos, solventes, pisos e até biodiesel. No entanto, quando utilizado para adulterar combustíveis, representa alto risco à saúde humana e à segurança pública, alerta a ANP.

Reação do setor

Entidades do setor sucroenergético e de combustíveis, entre elas a Bioenergia Brasil, Instituto Combustível Legal (ICL), Sindicom e Unica, emitiram nota conjunta em apoio à Operação Carbono Oculto.

As organizações destacaram a importância da iniciativa:

“O combate às práticas ilícitas é fundamental para proteger consumidores, garantir a arrecadação de tributos, fortalecer a confiança dos investidores e assegurar um ambiente de negócios transparente, que valorize empresas idôneas e inovadoras.”

Também reafirmaram compromisso com a ética empresarial e a colaboração com o poder público na construção de um mercado mais justo e competitivo.

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