Ver um filho com uma tesoura na mão pode ser aterrorizante para quaisquer pais, mas para Kerry McFadyen, foi um momento decisivo em sua vida.
A escocesa de 32 anos, de Cairngorms, encontrou o filho de três anos, Daniel, no banheiro, com a tesoura em mãos, dizendo que queria cortar seu pênis para que pudesse ser uma menina. Sua difícil condição em aceitar seu próprio corpo fez com que os pais tomassem a difícil e corajosa atitude de permitir que Daniel se tornasse Danni, no que se acredita ser o caso jovem de mudança de sexo no Reino Unido.
“Ele estava no banho, e de alguma forma ele conseguiu encontrar a tesoura. Tentei ficar calma e perguntei o que ele estava fazendo, e ele me disse que estava prestes a cortar seu pênis para que pudesse ser uma menina. Eu disse que ele não podia porque ele se machucaria e sangraria muito, e eu calmamente consegui contê-lo e dei-lhe um grande abraço. Foi muito perturbador vê-lo assim, nenhuma mãe deveria ter de ver seu filho tão chateado com seu próprio corpo”, relatou Kerry.
Ela e seu marido, Craig, de 34 anos, visitaram a Tavistock e Portman NHS Trust, em Leeds, na Inglaterra, onde Daniel foi diagnosticado com disforia de gênero, conhecido também como “transexualismo”. A condição acontece quando uma criança ou um adulto está angustiado ou desconfortável com seu sexo, por ele não coincidir com sua identidade de gênero. Danni diz a outras crianças que ela tem a cabeça de uma menina no corpo de um menino.
Segundo McFadyen, foi um alívio obter um diagnóstico e a família resolveu ajudar Daniel, deixando ele viver como uma menina, desde que ele tivesse consciência que poderia mudar de ideia. “Nós estávamos preocupados que ele seria intimidado na escola. Mas, no final, concordamos em deixar Daniel ser quem ele quisesse. Os nossos receios não eram o suficiente para impedi-lo de ser uma menina, se é isso que ele queria”, relatou ela.
Agora, seu objetivo é aumentar a consciência da condição a outras pessoas e pais que podem estar sofrendo, contando a história de Danni. Assim, ela criou uma página no Facebook para incentivar outros pais a compartilhar suas experiências, justamente por ter se sentido ‘perdida e indefesa’ quando a questão foi levantada. Segundo ela, com o apoio certo, qualquer família pode passar por isso e poder ajudar o seu filho da forma ideal.
Os médicos disseram que eles poderiam dar a Danni 6 drogas para adiar a puberdade, bem como tratamentos hormonais, e, em seguida, fazer uma cirurgia de redesignação de gênero na maioridade. Desde então, família e amigos conversaram com os professores da criança, e sua mãe e seu pai escreveram para outros pais explicando que Daniel voltaria para escola como Danni. Segundo Kerry, a resposta foi muito positiva, com quase todos os outros pais oferecendo apoio e louvando a bravura do casal. A escola instalou banheiros unissex para deixar a criança mais confortável.
Foi essa reação que, segundo Kerry, deu-lhe confiança para falar sobre o fato. “Eu escolhi tornar a história de Danni pública para aumentar a consciência sobre outras crianças transexuais a seus pais, que podem estar sofrendo em silêncio. Há muito a percorrer, como uma família, mas com o apoio certo, é possível obter a ajuda correta para o seu filho. O primeiro passo é ir a um especialista em gênero e receber um diagnóstico correto para a criança”, disse.
Os pais vão esperar que Danni atinja a puberdade para receber bloqueadores hormonais, para que ela tenha idade suficiente para decidir se quer ou não mudar de sexo. “A maioria das pessoas pode pensar que eu sou uma mãe ruim para permitir essa transição de criança tão jovem, mas vou fazer tudo para que minha criança seja feliz. Não foi fácil para mim. Mas, a minha filha está tão feliz agora, é uma criança completamente diferente. Eu estava mais preocupada com o que os nossos pais pensariam, pois eles são de uma geração diferente. Mas eles têm sido surpreendentes e disseram que amam Danni, não importa como”, concluiu Kerry.