Apesar da importância econômica e cultural para o Brasil, os jumentos correm o risco de entrar em extinção até meados de 2022. O maior símbolo animal do nordeste brasileiro sofre com os abates para a comercialização de pele no mercado estrangeiro, tanto de maneira legal quanto ilegal, o que ameaça a sua existência em nosso país.
Ministério da Agricultura, cerca de 5,4 mil jumentos foram abatidos na Bahia somente em abril de 2021.
O alerta foi emitido pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e também pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia. Segundo um levantamento feito peloComercialização para o estrangeiro
Segundo um levantamento do governo do estado baiano, a população de jumentos caiu de 300 mil para 93 mil entre 1995 e 2017 — o que representa uma redução de quase 70%. Vale ressaltar que essa região brasileira é responsável por 90% da totalidade da população desse animal.
Uma explicação para essa queda vertiginosa pode ser encontrada no comércio internacional das criaturas. Atualmente, jumentos podem ser encontrados em países como Portugal, Espanha, China e Itália, para onde são enviados para serem abatidos e terem suas peles comercializadas.
Esse material, inclusive, é um dos compostos principais na produção do ejiao, uma gelatina existente na medicina tradicional chinesa e usada para tratar insônia, tosse seca e problemas de coagulação sanguínea. A procura pela compra de jumentos é intensificada pelo fato do preço de venda dessas criaturas ser bastante baixo.
Desequilíbrio natural
Com taxa de reprodução não muito alta da espécie, a proporção de jumentos comercializados para abate tem causado um desequilíbrio na quantidade de espécimes sobreviventes. Uma vez que mais animais estão sendo abatidos do que outros estão nascendo, a tendência é que a espécie desapareça por completo até 2022 caso nada seja feito.
Em 2018, o abate de jumentos havia sido proibido após uma série de movimentações de organizações de proteção animal. Entretanto, a prática voltou a ser legalizada e regulamentada em 2019. O problema, porém, é que a falta de fiscalização por parte das autoridades faz que muitos processos ilegais aconteçam por debaixo dos panos.
Segundo os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o abate de jumentos aumentou em 8 mil % entre 2015 e 2019, quando foram mortos 91.645 animais. O rebanho estimado no Brasil neste momento é de 400 mil espécimes.
Legislação brasileira
O abate de equídeos, como cavalos, jumentos e mulas, é aprovado no Brasil há muitos anos. Inclusive, o decreto n° 9013/2017 é o que permite de forma estruturada e legal que jumentos e outras espécies sejam mortas todos os anos. Com base no que diz o Mapa, foram 135 mil jumentos abatidos legalmente entre 2002 e 2019.
Até 2010, a média de abates legais esteve em 4.825 por ano. Em 2018, por outro lado, o número de jumentos mortos subiu para impressionantes 62.622. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), 98,8 toneladas de peles cruas e couro de equinos foram exportadas em 2019 — 4.640% de aumento em relação ao ano anterior. Fazendo a ressalva de que esses números não levam em consideração o comércio ilegal da espécie.