Em uma nova etapa da corrida espacial, os Estados Unidos querem instalar um reator nuclear na superfície da Lua até o fim de 2029. A iniciativa, anunciada na última quinta-feira (1º) pelo administrador interino da NASA, Sean Duffy, pretende acelerar o desenvolvimento da tecnologia como estratégia de segurança nacional e também abrir caminho para uma futura economia lunar.
“Para avançar adequadamente esta tecnologia crítica, apoiar uma futura economia lunar, possibilitar geração de energia de alta potência em Marte e fortalecer nossa segurança nacional no espaço, é imperativo que a agência aja rapidamente”, escreveu Duffy no documento.
O plano prevê que, em até 30 dias, a NASA designe um responsável pelo projeto, e que em até 60 dias seja lançado o edital para que empresas privadas proponham modelos do reator. A expectativa é de que ele gere no mínimo 100 quilowatts de energia, o suficiente para abastecer cerca de 80 casas nos EUA.
Resposta à China e Rússia
A proposta também tem um componente geopolítico. Segundo Duffy, há um risco real de que China e Rússia, que têm projetos conjuntos para instalar bases lunares, consigam posicionar um reator antes dos Estados Unidos, o que poderia restringir a atuação americana na superfície lunar.
“Se forem os primeiros, China e Rússia poderiam potencialmente declarar uma zona de exclusão que inibiria o que os Estados Unidos poderiam fazer lá”, alertou o administrador.
O temor é que o avanço tecnológico e a instalação de infraestruturas fixas permitam aos rivais estabelecer hegemonia em partes do território lunar, especialmente no polo sul, onde há maior interesse estratégico e possibilidade de acesso a água congelada.
Energia para resistir à noite lunar
Um dos principais desafios para permanência humana e funcionamento de equipamentos na Lua é a duração do dia lunar: cerca de 28 dias terrestres, sendo 14 sob luz solar e outros 14 em completa escuridão.
Esse ciclo torna pouco viável o uso exclusivo de painéis solares, especialmente nas regiões polares. Por isso, reatores nucleares são vistos como solução mais confiável para garantir energia contínua durante todo o ciclo lunar.
A NASA já vinha financiando estudos nessa área. Em 2022, a agência concedeu US$ 5 milhões a três empresas para desenvolver protótipos menores, com capacidade de 40 quilowatts. A nova diretriz muda o foco: quer um reator mais potente e pronto para lançamento em quatro anos.
Mudança de rumos na NASA
A diretriz foi publicada logo após Sean Duffy assumir temporariamente o comando da NASA. Nomeado em julho pelo ex-presidente Donald Trump como secretário de Transportes, Duffy segue alinhado com a política republicana que prioriza voos tripulados e iniciativas comerciais no espaço.
Com isso, missões robóticas, pesquisas sobre mudanças climáticas e avanços em tecnologias de aviação têm sido deixados em segundo plano.
A estratégia também prevê a substituição gradual dos veículos da NASA, como o foguete SLS (Sistema de Lançamento Espacial) e a cápsula Orion, por alternativas privadas mais baratas, 1como os lançadores da SpaceX.
Artemis e incertezas
O reator nuclear pode ser incorporado ao programa Artemis, que marca o retorno dos EUA à Lua com missões tripuladas. O primeiro pouso está previsto para 2027, mas especialistas veem o cronograma como apertado. Elementos-chave da missão, como a nave Starship, ainda não foram testados em condições reais.
Apesar das dúvidas, o projeto avança em ritmo acelerado, com ambições que vão além da Lua, mirando também em futuras missões a Marte e na consolidação da presença dos Estados Unidos no espaço.