A modelo Sarah Stage está a menos de uma semana do nascimento de seu primeiro filho, mas o que mais chama a atenção é a barriga definida que ela continua exibindo no nono mês de gravidez. “É sem dúvida um caso de transtorno alimentar”, garante a psicóloga Irema Barbosa Magalhães, que já acompanhou mais de cem casos de grávidas anoréxicas.
Há seis anos, a especialista estuda casos de “pregorexia” (termo em inglês para definir anorexia na gravidez) e avalia de perto essas mulheres desde o início da gestação até dois meses após o parto.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que os transtornos alimentares atinjam 3% das gestantes. “Mas alguns estudos já mostraram que, nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 10% das grávidas sofrem de algum transtorno alimentar não identificado”, comenta Irema, que estuda o tema como parte de seu doutorado na Universidade Paris V da Sorbonne.
De acordo com a especialista, o tema não é novo, começou a ser estudado no final dos anos 80. Mas casos como o de grávidas saradas, que expõem a gestação no Instagram, e de famosas que continuam magras durante a gravidez, como Victoria Bekcham, contribuem para que o assunto volte à tona.
GRÁVIDAS SARADAS
O caso da modelo norte-americana Sarah Stage alerta para possíveis consequências que o movimento de musas fitness, obcecadas em documentar suas rotinas de exercícios e alimentação no Instagram, pode provocar.
“Trata-se de um transtorno alimentar só pelo fato de ela não querer ganhar peso durante a gravidez. E o exibicionismo da barriga nas redes sociais para mostrar que não está engordando é um comportamento muito peculiar de quem sofre com isso”, diz a especialista.
“Em uma das fotos, ela chegou a dizer que a criança está pesando 2 quilos. Isso é impossível. Considerando líquido amniótico e placenta, não tem como o bebê ter esse peso dentro da barriga que ela mostra nas fotos.”
GRÁVIDA MAGRA x GRÁVIDA ANORÉXICA
O controle de alimentação, calorias e exercícios é o que diferencia uma grávida anoréxica daquela naturalmente magra. Um referencial mais exato pode estar no IMC (Índice de Massa Corporal).
“Quando ele está abaixo de 18,5, é sinal de desnutrição. Neste caso, a recomendação é de um ganho de peso em torno de 12,7kg a 18kg. Mas também não quer dizer que uma pessoa com um índice maior não vá ter grandes problemas de transtorno alimentar”, esclarece a psicóloga.
Ela explica, ainda, que desenvolver algum distúrbio só durante a gestação é raro. Na verdade, o histórico de anorexia ou bulimia pré-gravidez pode contribuir para o quadro durante a gestação. O que acontece, segundo Irema, é que, em alguns casos, a patologia existiu, mas nunca foi diagnosticada. E daí a futura mãe pode ser surpreendida de alguma forma.
“Essas mulheres tendem a comer exatamente aquilo que o médico sugere, nenhum grama a mais. Eu já vi paciente emagrecer, engordar só três quilos ou então engravidar pesando apenas 34kg. Essas jamais vão se adaptar nutricionalmente para a vinda do bebê. Elas vão é fazer muito exercício físico”, diz Irema.