Os respiradores se tornaram mais um problema na pandemia de coronavírus. O aparelho é essencial para tratar casos graves e muito graves da doença e é utilizado quando o pulmão do paciente está muito comprometido e ele não consegue respirar por conta própria. Normalmente, esses equipamentos estão disponíveis apenas em leitos de unidades de terapia intensiva (UTI), mas nem todos os leitos dessa categoria têm respiradores. “Não é sempre que temos uma pandemia respiratória e normalmente não são todos os pacientes da UTI que precisam deles”, diz o pneumologista Elie Fiss, pesquisador sênior do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. As informações são da Revista Veja.
Mas, em uma pandemia de doença respiratória, como a que enfrentamos no momento, esse equipamento é primordial e a quantidade pode não ser suficiente para atender todos os pacientes. De acordo com um estudo publicado no periódico científico New England Journal of Medicine, em uma amostra de 1.099 pacientes hospitalizados com Covid-19 na China, 6,1% precisaram de ventilação mecânica.
A falta de respiradores já é uma realidade no mundo. A Itália, por exemplo, tem 60 milhões de habitantes, 86.498 casos de coronavírus e a maior taxa de mortes pela doença: 9%. Em um único dia foram registrados 919 óbitos. Em grande parte, por falta de respiradores. Frequentemente médicos precisam escolher qual paciente terá acesso ao equipamento. Daí a preocupação com uma possível insuficiência de leitos com esses equipamentos por aqui.
O Brasil conta hoje com 65.411 respiradores, dos quais 46.663 estão disponíveis no SUS e 18.748 na rede privada, segundo dados do Ministério da Saúde. Entretanto, apenas 61.219 estão aptos para uso. Em um período normal, a quantidade seria suficiente, mas no cenário atual, provavelmente não. “Dependendo do número de pessoas contaminadas ao mesmo tempo pela doença, isso pode ser um gargalo que precisa ser resolvido o mais rápido possível. Acho que vamos precisar de mais respiradores.”, afirma Fiss.
Mas engana-se quem acredita que esse é um problema local. Até países com uma quantidade muito maior de respiradores estão preocupados. Os Estados Unidos têm a maior taxa de leitos de UTI do mundo – 34,7 para cada 100.000 habitantes –, 160.000 respiradores, segundo informações da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. Entretanto, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) estima que 2 milhões a 21 milhões americanos podem precisar de hospitalização, o que também poderá sobrecarregar o sistema.
A Alemanha, apesar de muitos infectados (50.871, na sexta-feira, 27), tem uma das mais baixas taxas de letalidade mais baixas do mundo: 0,6%. O país está entre os seis mais afetados e tem o menor índice de mortes entre seus vizinhos europeus, que são: Grã-Bretanha (taxa de letalidade de 5,2%), Itália (9,0%), França (6%), Suíça (1,7%) e Espanha (7,7%).
Existem muitas hipóteses para explicar esse fenômeno, incluindo a grande quantidade de testes diagnósticos, a idade dos infectados e a vasta disponibilidade de respiradores. São 25.000 ventiladores, com 10.000 a caminho, para uma população de 81 milhões de habitantes.
No Brasil, o Ministério da Saúde já se adiantou para deixar o cenário mais parecido com o da Alemanha do que com a Itália. De acordo com a pasta, todos os 3.000 leitos de UTI volantes de instalação rápida anunciados pela Ministério para enfrentamento da Covid-19 já vem com respiradores. Desse total, 200 leitos já foram instalados nos estados de SP, RJ, MG e RS – os mais afetados pela epidemia no momento. As outras 340 unidades estão disponíveis à espera de solicitação dos estados.
Na semana passada, o Ministério da Saúde informou que o governo decidiu proibir a exportação de ventiladores e iria zerar o imposto de importação sobre produtos de UTI, incluindo respiradores. Além disso, há expectativa de adquirir 17.000 respiradores extras. A pasta entrou em contato com a China sobre o interesse em receber equipamentos hospitalares ociosos.
Uma medida mais recente, que tem desagradado os estados é a requisição de toda a produção nacional de respiradores e centralização da compra desses equipamentos. O ministro Luiz Henrique Mandetta informou que a produção de respiradores no Brasil está acelerada, podendo chegar até 400 aparelhos por semana. A medida fez com que a produção da indústria de respiradores precise de autorização do Ministério para ser vendida, mesmo para órgãos de saúde nacionais. O objetivo do governo é distribuir esses equipamentos, de acordo com o aumento do número de casos do novo coronavírus em cada região do país.
As principais empresas brasileiras que fabricam essas máquinas são a Dixtal Biomédica (da Phillips), a Intermed Equipamento Médico Hospitalar (da BD), e a K. Takaoka. Mas, na sexta-feira 20, já houve burburinho de que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) negocia com o governo sobre a possibilidade de complementar a produção dos equipamentos.
Outra opção, avaliada no mundo inteiro é ventilar mais de um paciente em um mesmo respirador. Entretanto, essa é uma opção temporária e que só deve ser usada em última instância. Os ventiladores foram desenvolvidos para uso individual e a segurança de usar o mesmo respirador em dois pacientes não foi devidamente estudada.
Essas medidas serão suficientes? Não se sabe. Por isso, a maneira mais óbvia e eficaz de evitar a falta de ventiladores é reduzir o número de pessoas que pegam a doença. Isso significa seguir todos os conselhos de saúde, incluindo regras de distanciamento social e higiene.