Pela primeira vez no Brasil, o holandês Bas Lansdorp, criador do projeto Mars One, que prevê a criação de uma colônia humana em Marte, deu uma palestra neste sábado na 8ª edição da Campus Party, feira de cultura digital e tecnologia que acontece em São Paulo. Segundo as projeções de Lansdorp, o planeta passaria a ser habitado a partir de 2025.
— Acredito que o momento em que pisarmos em Marte será um dos mais importantes da humanidade. O homem estará em um novo planeta — disse Lansdorp.
A própria Nasa, a agência espacial americana, nunca enviou uma missão tripulada a Marte, não porque enviar um foguete para lá seja difícil. A parte complicada é a viagem de volta. A Mars One propõe uma solução pragmática para este problema: eliminar o retorno. As pessoas irão para ficar.
A primeira missão está prevista para partir da Terra em 2018, quando a empresa conquistará o título de primeira companhia privada a pousar em Marte, se tudo der certo. Mas a primeira nave espacial tripulada só sairá daqui em 2024, quando o equipamento para receber humanos — painéis solares, estrutura para cultivo de alimentos, para produção de uma atmosfera respirável, etc — já terá sido montado por robôs. A viagem, em uma nave de espaço muito limitado, durará 7 meses. Depois da chegada da primeira equipe, novos estronautas, sempre em grupos de quatro — dois homens e duas mulheres — serão enviados a cada dois anos.
— Uma missão permanente é, na verdade, menos arriscada do que uma missão de retorno — apostou o empreendedor de 37 anos. — Esse é um plano possível hoje em dia. O sistema ainda precisa ser formulado até os mínimos detalhes e testado. Mas não precisamos de novas invenções para isso acontecer.
O custo de toda essa operação? US$ 6 bilhões. Assim como a jornada, a quantia também tem dimensões astronômicas, mas, de acordo com o maior entusiasta do projeto, ela seria rapidamente paga com a transmissão do evento para todas as redes de TV do mundo (“Quem não ficaria vidrado na TV para assistir à chegada do homem a Marte?”) e, é claro, com o investimento de patrocinadores e até memso doações de pessoas comuns.
— Há uma companhia interessada em financiar toda a missão nesse momento —comentou o empresário holandês, sem revelar detalhes.
TRIPULAÇÃO ESCOLHIDA A DEDO
O maior desafio da missão, no entanto, seria encontrar a tripullação eprfeita para a primeira missão. Afinal, passar sete meses a bordo de uma pequena nave, comendo apenas alimentos secos ou enlatados, e, depois, passar dois anos em um planeta habitado por somente quatro pessoas não será uma tarefa fácil. Esses astronautas ainda terão que absorver um volume enorme de conhecimento para montar todo o suporte necessário para a vida fora da Terra e, principalmente, precisarão trabalhar em um intenso esquema de cooperação.
— Essas quatro pessoas enfrentarão muitos desafios, e terão que resolver tudo sozinhos. Fora isso, nos primeiros anos eles não poderão tomar banho e a comunicação com a Terra será muito difícil — afirmou Lansdorp, que, em 2011, vendeu grande parte das ações da sua empresa anterior, Ampyx Power, para se dedicar ao sonho de habitar Marte. — Infelizmente, não poderei ir nessa primeira viagem. Sou a pessoa errada para a primeira equipe: teimoso e impaciente. Irei na quitna ou sexta missão, talvez.
Os bravos tripulantes já começaram a ser selecionados. Mais de 200 mil pessoas de todo o mundo se inscreveram no site da Mars One, sendo 10 mil brasileiros. Mais para frente, diversos times serão treinados, para que o espírito de cooperação sempre prevaleça. Caso um dos integrantes desista, todo o time estará fora da competição.
— Não precisamos de ninguém com doutorado. Talvez um ótimo encanador seja mais útil em Marte do que um físico. O mais importante é o espírito de equipe — frisou.