É exatamente isso mesmo que você leu: franja longa, nuca aparada e o ator Leonardo DiCaprio. No mês de janeiro dos anos de 2001, 22 barbeiros foram presos em Cabul, no Afeganistão, por oferecerem aos seus clientes o corte que reproduzia o mesmo penteado do astro de Titanic, sucesso mundial lançado nos anos de 1997. Essa ação fez parte de uma ampla repressão cultural imposta pelo Talibã.
informação foi revelada na época pela CBS News, que contou sobre a prisão dos profissionais ao longo de uma semana
Eles foram acusados de promover tendências consideradas contrárias à rígida interpretação do islamismo adotada pelo regime. O Ministério para a Prevenção do Vício e Promoção da Virtude, responsável pela polícia religiosa, enviava cartas de advertência aos barbeiros da capital. A justificativa oficial? Além de serem vistos como símbolos de influência ocidental, os cortes com franja longa “interfeririam na oração muçulmana”, por supostamente dificultarem o gesto de tocar a testa no chão, - parte fundamental da prática islâmica.
regime fechado e vasta fiscalização
Além das cartas, o Talibã também passou a realizar patrulhas para identificar e punir cortes inspirados na moda ocidental. O penteado, apelidado informalmente de “corte Titanic”, tornou-se o principal alvo. Mas outros estilos, como o famoso “corte dos Beatles”, também foram vetados.
papel de destaque
O modelo replicava o visual de DiCaprio no papel de Jack Dawson, com a franja caída sobre a testa e laterais curtas. A tendência se espalhou clandestinamente, impulsionada pela circulação ilegal de cópias em vídeo do filme, proibido oficialmente no país. Segundo a CBS News, o clima era de tensão entre familiares e colegas dos barbeiros, já que punições públicas eram comuns e havia incertezas quanto ao destino dos detidos.
Enquanto alguns homens passaram a aparar a barba em horários estratégicos ou até a modificar seus penteados para parecerem “menos ocidentais”, numa tentativa de evitar prisões e constrangimentos em público. Por outro lado, o corte acabou ganhando status de símbolo. Para muitos jovens afegãos, ele representava uma forma silenciosa de resistência às duras imposições do Talibã.
Desde que assumiu o poder, em 1996, o Talibã proibiu música, cinema, televisão e diversas formas de entretenimento. Restrições severas também foram impostas à aparência pública, especialmente das mulheres, sujeitas a regras ainda mais rigorosas.