Assunto que tomou conta do noticiário na última quarta-feira (17), a saída de Camila Queiroz da Globo deixou muita gente curiosa, especialmente por causa do tom adotado pela emissora no comunicado que enviou à imprensa. Normalmente, não é de costume da Globo expor os artistas dessa maneira. A íntegra está abaixo:
"A atriz Camila Queiroz não faz mais parte do elenco de Verdades Secretas 2, novela em exibição no Globoplay. Impactado pelos rigorosos protocolos adotados durante a pandemia, o período de gravação da obra, previsto para terminar no último dia 10, teve que ser ampliado por sete dias.
Para assinar a extensão de contrato necessária à gravação das cenas finais da novela, Camila Queiroz quis determinar o desfecho da personagem Angel e exigiu um compromisso formal de que faria parte de uma eventual terceira temporada da obra, além de outras demandas contratuais inaceitáveis.
A Globo, então, decidiu concluir Verdades Secretas 2 sem a participação da atriz. A novela seguirá sendo gravada e as cenas serão adaptadas para que seja mantida a essência da trama."
É curioso que, mesmo em casos mais graves, que se tornaram investigações dentro e fora da emissora, o tom adotado pela Globo foi bem mais leve. Trazemos como exemplos os episódios envolvendo José Mayer e Marcius Melhem, ambos acusados de assédio.
Em abril de 2017, quando suspendeu José Mayer, acusado de assediar uma figurinista, a emissora destacou o "enorme talento" do ex-galã de suas novelas.
"Em relação à denúncia de assédio envolvendo o ator José Mayer e a figurinista Susllen Tonani, a Globo reafirma o teor da nota divulgada na última sexta-feira, quando afirmou que o caso foi apurado e que as devidas providências estavam sendo tomadas.
Naquela nota, a emissora enfatizou que repudia toda e qualquer forma de desrespeito, violência ou preconceito. E que zela para que as relações entre funcionários e colaboradores se deem em um ambiente de harmonia de acordo com o Código de Ética e Conduta do Grupo Globo.
Esta convicção da Globo foi reafirmada para um grupo de atrizes, diretoras e produtoras, reunidas no domingo à noite, quando a emissora informou que, apurado o caso, tomou a decisão de suspender o ator José Mayer de produções futuras dos estúdios Globo por tempo indeterminado.
O ator foi notificado na segunda-feira dessa decisão. Sobre a iniciativa de funcionários, colaboradores e executivos de usar hoje camisetas com os dizeres 'Mexeu com uma, mexeu com todas', a Globo se solidariza com a manifestação, que expressa os valores da empresa.
O ator José Mayer, de enorme talento e com grandes serviços prestados à Globo e às artes brasileiras, certamente terá oportunidade de expressar seus sentimentos em relação ao triste episódio e esclarecer que atitudes pretende tomar.
A Globo lamenta que Susllen Tonani tenha vivido essa situação inaceitável num ambiente que a emissora se esforça cotidianamente para que seja de absoluto respeito e profissionalismo. E, por essa razão, pede a ela sinceras desculpas".
Em janeiro de 2019, o ator foi, enfim, demitido, após a investigação de assédio. O comunicado relembrou sua carreira e não expunha a situação que levou ao fim do contrato. O texto dizia o seguinte:
"Depois de mais de 35 anos de uma trajetória iniciada na novela 'Guerra dos Sexos', em 1983, com participação em mais de 40 obras, entre novelas, séries, minisséries e especiais, a Globo e o ator José Mayer informam o fim da parceria, de comum acordo, no final de 2018".
Com Marcius Melhem, acusado de assédio por um grupo de mulheres e exposto em uma reportagem da revista "Piauí", em 2020, a abordagem foi semelhante.
"A Globo e Marcius Melhem, em comum acordo, encerraram a parceria de 17 anos de sucessos. O artista, que deu importante contribuição para a renovação do humor nas diversas plataformas da empresa, estava de licença desde março para acompanhar o tratamento de saúde de sua filha no exterior.
Como todos sabem, a Globo tem tomado uma série de iniciativas para se preparar para os desafios do futuro e, com isso, adotado novas dinâmicas de parceria com atores e criadores em suas múltiplas plataformas. Os conteúdos de humor, assim como os de dramaturgia diária e semanal, continuam sob a liderança de Silvio de Abreu, diretor de Dramaturgia da Globo."
Talvez seja a hora de uma reflexão mais profunda. Por que, afinal, Camila Queiroz foi exposta desse modo e casos que foram parar na polícia não tiveram o mesmo tratamento?