Passados de mão em mão, mal armazenados e raramente higienizados, os carrinhos de supermercados são verdadeiros depósitos de contaminantes, que podem causar males como diarreia, gripe, conjuntivite e até infecções mais graves. As conclusões são de um estudo que será apresentado nos congressos Latino-Americano e Brasileiro de Higienistas de Alimentos, que começam nesta terça-feira, em Búzios.
Embora poucos se deem conta disso, as consequências da contaminação podem ser graves. A engenheira de alimentos Leide Cerqueira ficou 55 dias internada e quatro meses de licença depois de sofrer um ferimento provocado por um carrinho de mercado:
— Uma pessoa bateu com ele no meu calcanhar esquerdo, o que provocou um corte que não parecia grave. Mas, 24 horas depois, minha perna já inchou.
Três dias depois, Leide não andava e foi internada. Ela foi infectada pelo Staphylococcus, que penetrou a corrente sanguínea, alojando-se no coração e causando uma endocardite bacteriana. Precisou passar por três cirurgias no pé e até hoje toma remédio para controlar sequelas cardíacas. Ela diz que, felizmente, apesar do ocorrido, segue vida normal.
— Sei que foi uma fatalidade, mas serve de alerta — afirma.
Não é apenas no caso de cortes que a infecção pode ocorrer, segundo uma das autoras do estudo, Maria de Deus dos Reis, responsável técnica do Laboratório de Microbiologia da Indeba, empresa de higienização.
— Uma pessoa saudável pode não ter problema. Mas aquelas com o sistema imunológico mais fraco, como crianças, idosos e doentes, podem ser prejudicadas — alerta Maria de Deus, que desaconselha que crianças se sentem na cesta dos carrinhos.
O estudo fez testes em dois grandes supermercados de Salvador em 2014. Quinzenalmente, foram coletadas amostras da alça, do cesto e do eixo de sustentação das rodas de dez carrinhos. Ao todo, 180 amostras foram analisadas. Todas estavam contaminadas com Staphylococcus aureus e mesófilos totais, e cerca de 80%, com Escherichia coli.
A pesquisadora diz, no entanto, que a solução é simples: basta limpar os carrinhos periodicamente. Pelas análises, a colonização de bactérias cai entre 70% e 100% com um detergente neutro.
— Não foi preciso um desinfetante potente, só um esfregaço e um jato d’água — afirma Maria de Deus, que complementa. — O estudo foi feito em Salvador, mas esse é um alerta nacional.
REGRAS DE HIGIENIZAÇÃO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece regras de higienização de estrutura, equipamentos, móveis e utensílios de mercados, sem tratar especificamente de carrinhos e cestas. No Rio de Janeiro, o presidente da associação de supermercados do estado, Aylton Fornari, garante que a higienização dos carrinhos é diária:
— Talvez nem todos façam a limpeza diariamente, mas de maneira geral isso ocorre, sim. Após o fechamento do mercado, não só o carrinho, mas todas as dependências são higienizadas — afirma Fornari, acrescentando não haver registros de reclamações sobre o estado dos carrinhos de supermercados.