O que um filme de ficção pode ensinar aos cardeais que irão escolher o novo papa? Para muitos deles, surpreendentemente, bastante coisa. Segundo reportagem do jornal Político, vários cardeais assistiram ao longa-metragem “Conclave”, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado neste ano, antes de entrarem em isolamento na Capela Sistina para eleger o novo pontífice.
Baseado no romance de Robert Harris e dirigido por Edward Berger, o filme retrata com riqueza de detalhes o processo secreto da escolha papal. Apesar de ficcional em sua trama política, o longa foi descrito por um dos cardeais entrevistados como “notavelmente preciso” e “uma ferramenta de pesquisa útil”. A afirmação chama atenção especialmente pelo fato de que 80% dos 133 eleitores foram nomeados por Francisco e nunca participaram de um conclave antes.
Entre o real e o ficcional
Embora carregado de dramatizações, o filme acerta em aspectos essenciais do conclave. Ele mostra, por exemplo, a hospedagem dos cardeais na Domus Sanctae Marthae, o uso de ônibus para levá-los à Capela Sistina, o rigoroso isolamento sem celulares, jornais ou internet, e a queima dos votos após cada rodada.
Outros pontos retratados com fidelidade são o papel do camerlengo, que governa interinamente a Igreja durante o período da “Sé vacante”, e o ritual pós-morte do papa, incluindo o lacre do quarto papal e a destruição do anel do pontífice. Atualmente, o cargo de camerlengo é ocupado pelo cardeal Kevin Joseph Farrell, enquanto no filme é representado pelo personagem Lawrence, interpretado por Ralph Fiennes.
Não por acaso, com a morte do papa Francisco e o início do conclave real nesta quarta-feira (17), o interesse pelo filme disparou. “Conclave” alcançou o primeiro lugar entre os mais assistidos na plataforma Prime Video.
Conclave em pauta
A votação papal, na vida real, exige que um candidato receba dois terços dos votos dos cardeais presentes. As sessões acontecem até quatro vezes por dia, divididas entre manhã e tarde. Caso não haja consenso após o terceiro dia, uma pausa de 24 horas para oração é convocada. Se sete votações consecutivas falharem, uma nova pausa pode ocorrer.
Quando um nome atinge o número necessário de votos, o escolhido é questionado se aceita o cargo. Se aceitar, escolhe o nome pelo qual será conhecido e segue para a “Sala das Lágrimas”, onde veste a batina branca do papa. Em seguida, é apresentado ao mundo na sacada da Basílica de São Pedro, com o tradicional anúncio: “Habemus Papam”.
Mesmo com artimanhas políticas, especulações e vazamentos nos bastidores, como ocorre no longa, o que mais chamou a atenção dos cardeais que recorreram ao filme foi sua fidelidade aos rituais e à dinâmica interna do conclave.
Na era da superexposição digital, um drama religioso com ares de suspense político virou referência para quem vive, agora, a história de verdade.