Um dos cânions mais famosos na Terra é o Grand Canyon, no estado norte-americano do Arizona. Formado pela erosão das águas do Rio Colorado ao longo de milhões de anos, ele tem 449 km de extensão e uma profundidade que pode chegar a 1,8 km. Embora imponente, ele é um “nanico” perto do maior cânion do Sistema Solar, o Valles Marineris, em Marte.
Novas imagens em alta resolução obtidas pela câmera HiRISE, a bordo do satélite Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, mostram partes do Valles Marineris com detalhes nunca vistos. Com 4.000 km de extensão e até 10 km de profundidade, sua formação é um mistério, já que cientistas acreditam que Marte nunca teve um rio grande o bastante para cortar sua superfície desta forma.
Em vez disso, acredita-se que ele tenha sido criado por um outro processo, o vulcanismo nos primórdios da formação do planeta. A crosta marciana teria sido esticada e rasgada pela formação de um grupo de super-vulcões próximos na região de Tharsis, que inclui o Monte Olimpo, maior vulcão do sistema solar.
Mas não foram apenas os vulcões os responsáveis. Cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) acreditam que fortes correntes de água remodelaram o cânion após sua formação, tornando-o mais profundo. Análises mineralógicas feitas por satélites em órbita, como o Mars Express, mostram que o terreno foi modificado pela presença de água há milhões de anos.
O Valles Marineris também pode esconder informações importantes sobre a formação de Marte. Camadas de sedimentos dispostas em um padrão diagonal no fundo do cânion, na região conhecida como Tithonium Chasma (acima), sugerem que a inclinação do planeta em relação ao Sol mudou ao longo de milhares de anos, e já foi muito maior do que os 25 graus atuais. Isso alteraria os padrões climáticos, produzindo verões mais quentes e invernos mais frios, e até causando o derretimento parcial do gelo nas calotas polares.
Pedaços de Marte na Terra
Recentemente a Nasa aprovou a “Fase A” da missão Mars Sample Return (Retorno de Amostras de Marte). O objetivo é, na segunda metade desta década, enviar ao planeta uma missão robótica que irá coletar amostras do solo em vários locais do planeta e trazê-las de volta à Terra.
Durante a “Fase A” as equipes da Nasa e da agência espacia europeia (ESA) irão “maturar tecnologias essenciais” ao sucesso da missão, bem como “tomar decisões críticas” relacionadas ao design e avaliar parcerias com a indústria aeroespacial.
A primeira parte da missão já está a caminho de Marte: o rover Perseverance, que deve pousar no planeta em fevereiro de 2021, tem uma broca na ponta de um braço robótico, que é capaz de coletar amostras de rocha e selá-las em tubos herméticos. Estes tubos podem então ser colocados em locais específicos do planeta, ou armazenados internamente no rover.
As próximas etapas da missão são o desenvolvimento do Sample Retrieval Lander, veículo que irá pousar no planeta e coletar as amostras de Marte, e da espaçonave Earth Return Orbiter, que irá trazê-las até nós no início da década de 2030.