A faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa tem algo bizarro em exposição. A cabeça de um homem chamado Diogo Alves, que foi morto em 1841 está exposta na faculdade há anos.
A cabeça amarelada e conservada em um vidro, como se fosse um animal qualquer, mostra o semblante de Alves, que está de olhos abertos e parece assustadoramente tranquilo.
Para os médicos, professores e alunos que vivem no local, a cabeça é só mais um item cotidiano, mas, para quem visita a instituição, é impossível passar por Diogo Alves com indiferença, até mesmo porque o cara é reconhecido como o primeiro assassino em série de Portugal e o último criminoso a ser condenado por enforcamento no país.
Alves nasceu em Galiza, em 1810, e se mudou para Lisboa ainda jovem, à procura de trabalho. Foi jovem também que ele acabou achando a vida do crime bem mais interessante. Esperto, ele costumava assaltar fazendeiros humildes que iam até o centro de Lisboa vender seus produtos. Em seguida, matava suas vítimas e atirava seus corpos no Aqueduto das Águas Livres.
O fato é que, apesar dos furos na história lendária desse assassino, não importa quem foi mesmo o primeiro serial killer do país ou a última pessoa a morrer na forca – a cabeça em exposição é a de Alves.
A cabeça do criminoso foi preservada por causa dos estudos sobre frenologia, que foram introduzidos pelo médico alemão Franz Joseph Gall nos anos de 1700. Vista como pseudociência atualmente, a frenologia buscava estudar partes do cérebro que julgava ter relações com os traços da personalidade de uma pessoa – essa área de pesquisa acreditava, por exemplo, que a cabeça de uma pessoa criminosa tinha nódulos cerebrais que poderiam ser apalpados.
Foi com a intenção de estudar a cabeça de uma pessoa que teve um grande histórico criminal que os médicos conservaram essa parte do corpo de Alves. Não se sabe ao certo se pesquisas frenológicas foram, de fato, realizadas no cérebro do criminoso – outra cabeça, a de Francisco Mattos Lobo, contemporâneo de Alves e morto por matar quatro pessoas e um cachorro, foi motivo de estudo e está preservada na mesma universidade, embora não receba tantas visitas como a de Alves.
O assassino em série português é tão famoso que sua vida criminosa inspirou um livro em quadrinhos, uma biografia, uma história de ficção e o filme mudo “Os Crimes de Diogo Alves”, de 1911.