Para hoje, crianças de norte a sul do País aguardam seus presentes. Que elas não nos ouçam, mas a verdade é que o dia destinado à criançada é 25 de março. Quando o então presidente Getúlio Vargas criou a data por decreto, em 1940, não havia um dia exclusivo para elas - o que existia, desde 1924, era o Dia de Festa da Criança, de autoria do ex-presidente Artur Bernardes. As informações são do Terra.
Antes dos anos 50, as duas datas nem eram uma questão com a qual se ocupar: ninguém celebrava nenhuma das duas. Para os pequenos de hoje, que desconhecem tanto um presidente quanto o outro, a discussão segue não fazendo diferença alguma. Fica com os papais o impacto - no bolso - de uma das razões que empurrou a comemoração para o dia 12 de outubro: uma motivação basicamente comercial.
Segundo o professor e educador Moysés Kuhlmann Júnior, pesquisador da Fundação Carlos Chagas (FCC), de São Paulo (SP), a comemoração da data iniciou com pequenas iniciativas na década de 1930, como a Cruzada Pró-Infância, criada pela ativista social Pérola Byington, em São Paulo, mas com um caráter especialmente filantrópico. "Ela foi uma grande fomentadora dessas ações voltadas para as crianças, que depois foram adotadas como iniciativa governamental na década seguinte, pelo Departamento Nacional da Criança. O governo seguiu o modelo da Cruzada Pró-Infância, comemorando a semana da criança em outubro com campanhas cívicas para registro de meninos e meninas", destaca.
Na carona da filantropia, empresas fabricantes de brinquedos passaram a aproveitar a época para incrementar as vendas, assim, a data se popularizou nos anos 1950. "Nessa década, ocorreu a entrada das empresas na comemoração do dia, primeiro distribuindo brinquedos para as crianças e, depois, com um desenvolvimento mais agressivo do lado comercial, através de publicidade. Um fator de grande importância para isso foi a ampliação do mercado consumidor da classe média no Brasil", ressalta Kuhlmann.
O 12 de outubro foi um bom pretexto para os fabricantes suprirem uma lacuna no seu calendário de vendas, fazendo com que o 25 de março fosse esquecido. "Em março e abril temos a Páscoa; em maio, o Dia das Mães; em junho, Namorados; em dezembro, o Natal. Mas em outubro, havia uma brecha no calendário comercial. Assim, a semana da criança, criada pela Estrela lá por meados da década de 1950, foi pensada para preencher essa lacuna, e aumentar as vendas dos produtos da marca", explica o professor de marketing Fernando Antunes, do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB).
A iniciativa deu tão certo, destaca Antunes, que a data foi instituída na prática, e outras empresas passaram a utilizá-la para alimentar as vendas de brinquedos infantis. "Independentemente da data criada pelo decreto de 1940, o 12 de outubro foi definido para ser o Dia das Crianças também por ser feriado nacional, em função do dia de Nossa Senhora Aparecida", frisa.
Data consolidada, o 12 de outubro dificilmente vai deixar de ser celebrado. Espertas que são as crianças quando se trata de ganhar presente, é mais fácil que elas passem a exigir mimos também em março. E o 20 de novembro - criado em 1954 pelo Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef), o Dia Universal das Crianças, deve ser usado, segundo a Unicef, para promover atividades voltadas para o bem-estar dos pequenos do mundo inteiro, das mais diversas maneiras. A data também marca a adoção da Declaração dos Direitos da Criança, em 1959, e da Convenção sobre os Direitos da Criança, em 1989, pela Assembleia Geral da ONU.