Um professor doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG) levantou polêmica depois de dar gargalhadas ao falar das pessoas mortas pela Covid-19, como mostra vídeo de aula on-line que circula nas redes sociais. José Ricardo Sabino é investigado pela instituição por ter minimizado a pandemia, que já fez mais de 311 mil vítimas no país. Só em Goiás, onde ele mora, a Covid-19 já matou mais de 11 mil pessoas. A velocidade das mortes tem aumentado.
“Você vai me chamar de genocida, mas as pessoas morrem, sabe? As pessoas morriam antes da pandemia. Há indícios de que as pessoas morriam antes. Há indícios de que não havia UTI antes da pandemia”, afirmou, após iniciar uma sequência de gargalhadas.
Pedido de desculpa
O vídeo tem pouco mais de três minutos. Em nota, Sabino pediu desculpas, após repercussão negativa das declarações, que são analisadas pelo Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo de deliberação dentro da universidade.
A depender da conclusão do caso, ele poderá ser até expulso da instituição.
Em outro trecho do vídeo, apesar de cientistas continuarem pesquisas sobre a eficácia de mais medicamentos e tratamentos contra a Covid-19, o professor insiste durante a aula on-line.
“Há indícios de que continua negando que remédios podem fazer algum auxílio. Há gente negando, apesar de haver estudos”, diz. “Eles resolveram não estudar os remédios”, continua.
Não há comprovação científica nem recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a eficácia de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina no tratamento de pessoas, por exemplo. A eficácia deve ser comprovada com estudos científicos completos que tenham metodologia rigorosa.
Mais adiante no vídeo, o professor segue contrariando a ciência e diz acreditar, por simples dedução pessoal, que o uso simultâneo de mais de uma máscara de proteção facial não tem eficácia contra o coronavírus.
Reações de repúdio
As declarações do professor provocaram notas de repúdio do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (Sint-Ifesgo) e Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato).
Em nota, a UFG informou que apura o caso junto à ouvidoria e declarou que considera inaceitável toda e qualquer declaração desrespeitosa sobre as mortes causadas pela Covid-19.
“Embora a universidade seja um espaço amplo, de debates e pluralidade de pensamento, a Universidade Federal de Goiás enfatiza seu posicionamento em uma única direção: a defesa da ciência e da comprovação dos fatos à luz do conhecimento”, afirmou.
A diretoria e o conselho de representantes do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg) também disseram classificar como “inaceitável” qualquer declaração desrespeitosa sobre as mortes causadas pelo coronavírus no país.
“O Adufg está apurando os fatos e entrará em contato com o professor José Ricardo Sabino para esclarecer suas falas, dando oportunidade para que ele possa se manifestar e apresentar suas razões, se pronunciando novamente na sequência”, disse o sindicato.
“Fala que não proferi”
Em nota, o professor pediu desculpas aos colegas, a todos os dirigentes da UFG e a toda comunidade por causa de suas declarações. Segundo ele, as palavras “foram mal interpretadas pelos mesmos que divulgaram esse vídeo sem autorização”.
“Esse recorte de vídeo tirado do contexto pretende imputar a mil uma fala que não proferi”, alegou.
Sabino salientou que está ciente da gravidade da crise provocada pela pandemia do coronavírus e o agravamento com o enorme aumento de casos. Além disso, afirmou que se solidaria com as famílias das pessoas acometidas gravemente pela Covid-19 e por todas as outras doenças.
“Respeito e recomendo as providências de prevenção, higiene das mãos, não participar de aglomeração e uso de máscaras de proteção”, acentuou, para concluir: “Por fim, manifesto minha tristeza por essa confusão e ter sido privado de diálogo com as pessoas que querem me responsabilizar sem entenderem minha verdadeira intenção”.
A UFG não informou o prazo para concluir a análise do caso. Se for penalizado, o professor pode receber sanção de advertência até exclusão da universidade. A depender da gravidade da repercussão das declarações do professor, ele também poderá ser alvo de investigações da polícia e do Ministério Público.