Variante brasileira do coronavírus é detectada no RJ, diz Fiocruz

Além do RJ, São Paulo, Pará, Roraima e Ceará já tinham mapeado pacientes com a P.1.

Variantes do coronavírus | Foto: Reprodução/GloboNews
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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou nesta terça-feira (16), pela primeira vez, a presença no Rio de Janeiro da variante brasileira do coronavírus. Essa mutação, chamada de P.1., foi identificada primeiro em Manaus. É mais transmissível, embora não se tenha confirmação de que seja mais letal.

O G1 inicialmente informou que havia transmissão interna da variante no Rio, mas a fundação explicou que o laudo não traz esse detalhamento. O post foi corrigido às 13h15.

"A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), confirma a informação de que foi detectado caso da variante de Manaus do SARS-CoV-2 mediante análise laboratorial", disse, em nota. 

A fundação explicou que fez o sequenciamento genético de uma amostra e confirmou tratar-se da P.1., mas o laudo não informa se há transmissão dessa mutação em solo fluminense ou se essa amostra é de alguém que pegou a variante em outro lugar e ficou doente no RJ.

Variantes do coronavírus — Foto: Reprodução/GloboNews 

Segundo a Fiocruz, apenas uma investigação epidemiológica vai apontar a origem do vírus — a cargo das secretarias de Saúde e do Ministério da Saúde.

Além do RJ, São Paulo, Pará, Roraima e Ceará já tinham mapeado pacientes com a P.1. A identidade do paciente não foi divulgada. O RJ tinha, até esta segunda-feira (15), 31.512 mortes e 554.835 casos de Covid-19.

O que se sabe sobre variantes

Três variantes do SARS-CoV-2 estão sob a atenção dos cientistas: B.1.1.7 (britânica), 501Y.V2 (sul-africana) e P.1. (brasileira).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), elas estão se espalhando rapidamente por todo o mundo. A britânica já está em 80 países, a sul-africana circula em 41 países e a brasileira foi identificada em 10.

O vírus é mais agressivo? As vacinas são eficazes? Por que os vírus mutam? Veja abaixo perguntas e respostas sobre o que se sabe ate o momento.

1. O que é uma mutação?

É uma mudança que ocorre de forma aleatória no material genético. Essas alterações ocorrem com frequência e não necessariamente deixam o vírus mais forte ou mais transmissível.

Por isso, pesquisadores acompanham o caminho das transmissões e fazem um mapeamento do material genético no decorrer da pandemia, uma forma de monitorar as versões que realmente merecem atenção.

"Algumas pessoas falam 'ah, ele [o vírus] fez uma mutação para causar tal doença ou tal forma de se infectar'. Não. Isso não é direcionado", explica Rute Andrade, bióloga doutora em saúde pública e membro da Rede Análise Covid-19, grupo multidisciplinar de pesquisadores brasileiros que coleta, analisa, modela e divulga dados sobre a doença.

"Por exemplo: uma mutação no SARS-CoV-2 que propiciaria a ele entrar mais facilmente na célula – ela seria sem querer, só que ela iria se fixar, porque mais vírus vão entrar na célula. E o que o vírus mais quer é entrar numa célula para se replicar", acrescenta. 

"Então, se ele consegue uma modificação ao original que facilite entrar melhor nas células, essa modificação vai dominar em relação às outras e, às vezes, até mesmo ao vírus ancestral", completa Andrade, que também é e Conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

2. Como se chamam e onde surgiram as novas variantes do novo coronavírus?

A variante chamada de B.1.1.7 surgiu no Reino Unido. Estudo publicado em dezembro descreve que os primeiros dois casos foram detectados na cidade de Kent e em Londres, em 20 e 21 de setembro, respectivamente.

Na África do Sul, a variante encontrada é a 501Y.V2. Ela foi identificada em análises feitas em outubro. Em dezembro, o país relatou a mutação à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Essa nova variante parece ser transmitida mais rapidamente do que as cepas mais antigas, dizem os pesquisadores que a identificaram na África do Sul.


A P.1. é a variante brasileira. Ela foi detectada inicialmente em Manaus. No dia 15 de janeiro, o Ministério da Saúde confirmou uma reinfecção por nova variante brasileira do coronavírus. A análise em laboratório mostrou um padrão de mutações compatível com a variante do vírus SARS-CoV-2 encontrada no Amazonas.

3. A mutação do novo coronavírus deixou ele mais agressivo?

Por enquanto, não há comprovação de que o vírus esteja mais forte ou cause uma versão mais grave da Covid-19. Os cientistas apontam apenas que as trocas genéticas afetaram a maneira como o vírus se fixa nas células humanas.

"O fato de ela [nova versão do coronavírus] não ser mais patogênica não significa que não vá aumentar o número de pessoas doentes. Quando você tem mais gente infectada, acaba levando a um número maior de pessoas doentes. Sim, ela pode causar bastante estrago. A gente precisa estar atento. E as pessoas precisam entender que todo mundo tem que ter mais cuidado agora", disse Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, uma das especialistas que sequenciaram a nova variante encontrada no Brasil.

4. A mutação do novo coronavírus deixou ele mais transmissível?

Sim. As novas variantes parecem ser mais contagiosas. Estudo médico divulgado no final de dezembro aponta que a nova versão do Reino Unido é entre 50% a 74% mais contagiosa.

Pesquisadores também acreditam que as variantes da África do Sul e do Brasil são mais contagiosas, já que a mutação se expandiu rapidamente.

Por isso, é importante manter as medidas de isolamento, usar máscara e manter a constante higienização das mãos.

Um novo estudo preliminar mostrou que a variante britânica está se espalhando rapidamente nos EUA e pode dominar os casos de Covid-19 no país em março. Segundo os pesquisadores, a taxa de transmissão é de 30% a 40% maior do que as mutações mais comuns, dobrando a cada semana e meia.

5. As vacinas devem funcionar para essas novas variantes?

As fabricantes já estão testando seus imunizantes contra as novas variantes. Os pesquisadores da Universidade de Oxford informaram que a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela universidade em parceria com a farmacêutica AstraZeneca é eficaz contra a variante britânica.

Pfizer e Moderna também anunciaram que suas vacinas, ambas com tecnologia de RNA mensageiro, conseguiram neutralizar duas variantes do coronavírus em laboratório: a britânica (B.1.1.7) e a sul-africana (B.1351 ou 501Y.V2).

A Johnson, que usa tecnologia de vetor viral, disse que sua vacina teve 57% de eficácia contra a variante da África do Sul. Um outro estudo indicou que duas vacinas chinesas – a BBIBP-CorV, da Sinopharm, e a ZF2001, da Anhui Zhifei Longcom e Academia Chinesa de Ciências Médicas – também conseguiram neutralizar a mutação sul-africana em laboratório.

Já a Novavax informou que a sua vacina teve eficácia bem mais baixa para a variante sul-africana em comparação às outras do coronavírus. Enquanto os dados do Reino Unido apontaram para uma eficácia de 89,3%, os testes feitos na África do Sul concluíram uma eficácia de 49,4%. Dos 27 casos de Covid-19 encontrados lá durante os testes, 25 tinham a variante local do coronavírus.

Vacina de Oxford é eficaz contra variante britânica, diz estudo preliminar

6. As medidas de precaução (distanciamento, máscara, lavagem das mãos, álcool) servem para essas mutações?

Sim. Mesmo com a mutação do vírus, as medidas para evitar o contágio da Covid-19 adotadas no mundo todo desde o começo da pandemia continuam válidas e necessárias. O vírus mutante ou o vírus original não atravessam a máscara, não resistem à lavagem das mãos com sabão ou álcool em gel. A transmissão também é evitada com distanciamento social. Ambientes arejados e com boa circulação de ar também são muito importantes.

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