O novo Coronavírus já possui casos confirmados em quatro continentes do mundo (Ásia, Oceania, Europa e América, mais especificamente o subcontinente do Norte) e a agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que o risco global é alto. Até agora, o novo vírus deixou 106 mortos, sendo 100 apenas na província de Hubei, localizada na cidade de Wuhan. Já são quase 5.000 infectados. Diante desse elevado grau de risco, na manhã da terça-feira (28) a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) reuniu autoridades de saúde, segurança e fiscalização para esclarecer as instruções de cuidados diante do aumento repentino de mortes e pessoas infectadas pelo vírus.
O Ministério da Saúde solicitou aos estados uma organização na vigilância ambiental, epidemiológica e sanitária, trabalhando os aeroportos, a atenção básica e o diagnóstico. Inicialmente, a convocação da reunião teve o intuito de sensibilizar as autoridades do Piauí. Amélia Costa, coordenadora de Epidemiologia da Sesapi, garante que entrando ou não na lista de países notificados, o estado vai estar em um bom nível de organização.
“Precisamos trabalhar as vigilâncias epidemiológicas das doenças, vigilância ambiental e sanitária. Assim como os aeroportos, nós precisamos trabalhar o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Piauí (COSEMS/PI) para dar visibilidade e fornecer uma estrutura”, disse.
De acordo com ela, essa questão é mais crucial ainda, já que o Brasil saiu de médio para alto risco, devido o Carnaval, um evento nacional e internacional que aglomera uma grande quantidade de pessoas de vários países. Os cientistas do Imperial College de Londres, instituição britânica com foco em ciência e medicina, estimam que, em média, cada caso (de um paciente portador do Novo Coronavírus) infectou 2,6 pessoas a mais.
“Esse vírus sofreu alterações e está apresentando características diferentes de gravidade e grande capacidade de dispersão, ou seja, de contaminação”, disse Amparo Salmito, gerente de Epidemiologia da Fundação Municipal de Saúde (FMS).
No Brasil, o Ministério da Saúde investiga dois casos suspeitos, um em Minas Gerais e outro no Rio Grande do Sul. Luiz Henrique Mandetta, Ministro da Saúde, informou que a paciente de Minas Gerais apresentou sintomas compatíveis com os da doença.
A jovem de 22 anos que viajou para Wuhan, na China, chegou em território brasileiro no dia 24 de janeiro e está internada em um hospital de alta organização na área de infectologia. Todas as 14 pessoas que tiveram contato com a estudante também estão sendo "monitoradas".
“A Secretaria de Saúde, sob comando da OMS, está aqui para traçar estratégias de como a gente pode enfrentar um caso que possa chegar ao nosso país”, declara Amparo Salmito, que ressalta que é preciso aprender com uma possível chegada do Coronavírus.
Situação do Brasil é de perigo iminente
Nesta terça-feira (28), o Ministério da Saúde elevou a classificação de risco do Brasil para o nível 2, que significa “perigo iminente” – até segunda-feira (27) o país estava em nível 1 de alerta. A mudança de patamar faz parte de um protocolo envolvendo a escala, que vai de 1 a 3 – o nível mais elevado só é ativado quando são confirmados casos transmitidos em solo nacional.
Florentino Neto, secretário estadual da Saúde, informa que convocou as 12 instituições, entre elas, o Hospital de Doenças Tropicais Natan Portela, demais hospitais que realizam serviços públicos de saúde e a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) para discussão da situação de alerta.
“O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) se manifestaram pedindo mais atenção e caracterizando ainda como uma situação de emergência em razão de nós termos a presença dessa síndrome respiratória grave nos quatro continentes”, falou o secretário.
A reunião foi uma preparação de toda rede em consonância com o boletim epidemiológico da Anvisa e do Ministério da Saúde, para atuar conforme as autoridades sanitárias federais. Uma reunião que é realizada na última semana de cada mês, com Conselho Nacional dos Secretários de Saúde e Comissão Intergestores Tripartite (CIT), foi antecipada devido a ascensão de casos de Coronavírus.
“As medidas estão sendo tomadas de acordo com o protocolo que o Ministério da Saúde está disponibilizando. O ministro Luis Henrique Mandetta convocou todos os secretários de Saúde do Brasil para estarem reunidos com ele no dia 06 de fevereiro”, disse Florentino.
A situação é de tranquilidade, enfatiza. “Por não termos casos, ela remete uma responsabilidade das autoridades de saúde pública de organizarem a rede e todos os esforços para uma resposta rápida e de prevenção”, declara.
Sobre o vírus.
José Noronha, médico, especialista em Infectologia e Medicina intensiva e diretor-geral do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela, destaca o que esse vírus representa para a saúde da população.
“O nome ‘Coronavírus’ vem de coroa, é como se ele tivesse pequenas cristas ao redor da cápsula desse vírus e elas tenham um tropismo maior para as células do nosso pulmão. Nós vimos casos semelhantes antes, na epidemia de SARS, em 2003, na epidemia de MERS no Mediterrâneo, em 2012, e agora nós temos esse novo tipo de Coronavírus em 2020”, explicou.
A SARS afetou milhares de pessoas em todo o mundo, e matou quase 800 e a MERS causou a morte de 858 dos 2.494 pacientes identificados com a infecção desde 2012.
Noronha fala das instruções cabíveis para as Organizações de Saúde para prevenir a população ”Nós estamos estudando as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde para definir as melhores estratégias. Para a população, o que podemos recomendar é que todos tenham atenção na higienização das mãos”, falou.
Boa parte desses vírus é transmitida quando um indivíduo leva o mão ao rosto, boca ou nariz e depois toca em outras pessoas. “Caso a pessoa tenha viagem para China ou algum país envolvido e tenha sintomas gripais, é preciso que imediatamente essa pessoa não se exponha a grandes aglomerados populacionais e entre em contato com o serviço de saúde, comunicando vínculo epidemiológico”, disse.
Os principais sintomas, caso esteja dentro de vínculo epidemiológico ou tenha tido contato com algum caso suspeito ou região com caso confirmado, são: dificuldade de respirar, coriza, tosse, dor de garganta e febre e fraqueza. “Se caso algum sintoma seja compatível, vamos definir pela história epidemiológica e o quadro clínico dos pacientes”, ressalta o médico. (A.S.)