O governo de São Paulo registrou a primeira morte por coronavírus no Brasil na manhã desta terça-feira (17) e investiga se outras quatro mortes também foram provocadas pela doença. Todas as vítimas, inclusive o morto por coronavírus, estavam internados na mesma rede hospitalar. No entanto, não foi informado se estavam na mesma unidade. As informações são do G1.
“Infelizmente o ocorrido foi o primeiro óbito aqui. Um homem morador de São Paulo internado em um hospital privado e o diagnóstico de coronavírus foi feito também por um laboratório privado. Ele veio a óbito ontem 16h03 e não tem histórico [de viagem para o exterior]. Fomos informados oficialmente hoje às 10h", disse o infectologista David Uip, coordenador do centro de contingência ao coronavírus de São Paulo.
"Existem quatro outros óbitos neste mesmo serviço particular que estão sendo investigados. Assim que tivermos informações, sendo ou não coronavírus, vamos informá-los." - David Uip.
Segundo o infectologista, a vítima teve os primeiros sintomas no dia 10 de março, foi internada quatro dias depois, no sábado (14), e morreu nesta segunda-feira (16). Como a doença no paciente foi constatada somente na noite desta segunda, o caso provavelmente não foi contabilizado no balanço oficial de casos confirmados no estado, segundo o governo.
"Provavelmente não está na contagem. [...] Muitas vezes o laboratório que está fazendo o exame tem positivo então tem um sistema, na hora que tem positivo ele comunica as instâncias superiores até que acaba em um relatório do estado que vai dar no Ministério. Então, acaba o diagnóstico e o dado da vigilância epidemiológica, tem um tempo até isso. Nós fomos informados hoje oficialmente e o diagnóstico, segundo a informação que nós recebemos, ocorreu ontem à noite. Então não deve constar no número de casos do estado", disse Uip.
Ele tinha histórico de diabetes e hipertensão, além de hiperplasia prostática — um aumento benigno da próstata que não é uma doença, mas uma condição comum em homens mais velhos que pode causar infecções urinárias. O homem não tinha histórico de viagem e teve transmissão comunitária.
"Infelizmente, os óbitos são esperados do ponto de vista de postura, mas temos que trabalhar, foi uma evolução rápida, da internação ao óbito", declarou Uip.
Ele disse que vai sugerir ao governo federal a mudança do tempo de quarentena de 14 para 10 dias. “O caso desse paciente está fazendo a gente entender como se comporta a doença. Nós imaginávamos que o período de encubação da doença era de até 14 dias, mas a média está sendo de 6 a 8 dias até a doença se manifestar. Vamos inclusive sugerir ao Ministério da Saúde que diminua o tempo de quarentena de até 14 dias para dez.”
Transmissão comunitária
O secretário estadual da Saúde destacou que trata-se de uma contaminação por transmissão comunitária, já que o paciente não viajou para o exterior tampouco teve contato com casos confirmados da doença.
"Temos que repensar cada vez mais as medidas de prevenção, principalmente por se tratar de um óbito comunitário", afirmou José Henrique Germann, secretário estadual da Saúde.
O coordenador do Centro de Contingência disse que o grupo de combate ao coronavírus estuda a possibilidade de aumentar o número de testes. "Entendemos que é adequado ampliar o centro de diagnóstico, avaliar esta possibilidade."
Na tarde desta terça, o estado de São Paulo contabilizava uma morte e 164 pacientes infectados em outo municípios. Do total de doentes, 156 estão na capital paulista e o restante na Grande São Paulo. No Brasil, eram 314 casos de contaminação.
Casos graves
De acordo com o governo, atualmente, há cerca de 30 pacientes graves no estado de São Paulo. O governo destaca, no entanto, que trata-se apenas de uma estimativa.
"De forma geral, ele segue aquele padrão que o doutor David Uip já disse, se nós temos 160 casos confirmados no estado, 80% são leves e 20% são pessoas que precisaram ser internadas. E, dessas, um quarto, representando 5% do total, são casos mais graves. Então, de 160 a gente tem cerca de 30 no estado", disse Paulo Menezes, da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde.
"Esta pandemia afetou em um primeiro momento a rede privada. Isso já era esperado porque são indivíduos que vem de outros países. Nós não temos nesse momento o número exato de graves porque estão em hospitais privados", explicou Uip.
O governo de São Paulo avalia que o surto de coronavírus deve durar "de quatro a cinco meses". No entanto, as medidas restritivas adotadas pela administração estadual, como a suspensão das aulas e a restrição de eventos (leia mais abaixo), não devem ser aplicadas durante todo este período.
Estado de emergência na cidade de SP
Nesta terça-feira, foi publicado no Diário Oficial da cidade de São Paulo decreto de estado de emergência, que permitirá à Prefeitura requisitar bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, com pagamento posterior de indenização justa.
Isso significa dizer que a Prefeitura poderá, por exemplo, exigir dos fabricantes de álcool em gel que vendam o produto à administração pública a “preço justo”, em caso de falta. O decreto de emergência também autoriza a dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços destinados ao enfrentamento da emergência.
Foram impostas, ainda, medidas para restrição da circulação de pessoas na capital paulista e no estado. As aulas nas escolas municipais e estaduais estão sendo suspensas, de forma gradual, desde o início da semana e devem ser totalmente interrompidas até sexta-feira (20). A suspensão também ocorre em escolas particulares e universidades.
O governo estadual determinou o cancelamento de eventos públicos estaduais, independentemente do número de pessoas. A Prefeitura de São Paulo deverá suspender o alvará para grandes eventos, que já estão sendo cancelados e adiados.
Funcionários públicos com mais de 60 anos, com exceção dos que atuam nas áreas de Segurança e Saúde, irão trabalhar de casa. A Prefeitura de São Paulo recomendou que os idosos, acima de 60 anos, evitem usar o transporte público para evitar o risco de contaminação e proliferação da doença. A administração municipal também restringiu o número de pessoas presentes nas salas dos velórios a partir desta terça, serão permitidos somente dez pessoas por vez.
As medidas mudaram o cenário da cidade de São Paulo, que tinha poucos carros e pedestres nesta segunda e na terça-feira. Às 8h desta terça, as ruas da cidade estavam vazias e o índice de lentidão estava bem abaixo da média. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), às 7h havia 7 quilômetros de congestionamento na cidade, quando a média varia entre 25 e 39 quilômetros.
Reavaliação de testes laboratoriais
Ainda na segunda-feira, o governo estadual informou que "vai avaliar" a nova recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que todos os casos suspeitos do novo coronavírus sejam submetidos a exames laboratoriais. A afirmação foi feita pelo secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann.
Na sexta-feira (13) o governo de São Paulo havia anunciado que somente pacientes internados seriam submetidos ao teste laboratorial na rede pública e que o diagnóstico clínico seria adotado para outros casos suspeitos.