Nova variante na África do Sul é a pior; o que se sabe até agora

O professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação disse que foram localizadas 50 mutações no total

Nova variante detectada na África do Sul | Getty Images via BBC
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Há a expectativa de que, nesta sexta-feira (26), a Organização Mundial da Saúde (OMS) batize com um codinome grego uma nova variante do coronavírus que foi registrada pela primeira vez na África do Sul e já é considerada aquela com o maior número de mutações.

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Ainda é cedo para dizer o quão transmissível ou perigosa é a variante B.1.1.529. Isto porque ela ainda está restrita a uma província sul-africana. Mas um pesquisador já a classificou como "horrível", enquanto outro disse que ela é a pior já vista.

Em uma entrevista coletiva, o professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação, na África do Sul, disse que foram localizadas 50 mutações no total — e mais de 30 na proteína spike (a "chave" que o vírus usa para entrar nas células e que é alvo da maioria das vacinas contra a Covid-19).

Oliveira, que é brasileiro, disse que a variante carrega uma "constelação incomum de mutações" e é "muito diferente" de outros tipos que já circularam. "Esta variante nos surpreendeu, ela deu um grande salto na evolução [e traz] muitas mais mutações do que esperávamos".

Até agora, foram confirmados 77 casos na Província de Gauteng, na África do Sul; 4 casos em Botsuana; 1 em Hong Kong (uma pessoa que voltou de uma viagem à África do Sul) e 1 em Israel (uma pessoa que voltou do Malaui).

A variante traz uma preocupação em particular quando o assunto é a imunização. Isto porque as vacinas foram desenvolvidas mirando a cepa original do coronavírus, registrada inicialmente em Wuhan, na China.

O fato da variante B.1.1.529 ser tão diferente do vírus inicial pode significar que as vacinas não funcionem tão bem.

Por outro lado, é importante destacar que a África do Sul tem só 24% da população totalmente vacinada, então, pode ser que, ao chegar a países com taxas mais altas de imunização, a variante não tenha tanta força.

Nova variante detectada na África do Sul tem total de 50 mutações Foto: Getty Images via BBC

Quando muitas mutações preocupam

Em relação à parte do vírus que faz o primeiro contato com as células do nosso corpo, esta variante tem dez mutações, em comparação com as apenas duas da variante delta, que se espalhou pelo mundo.

Muitas mutações não significam automaticamente algo ruim. O importante é saber o que elas provocam.

Houve na pandemia muitos exemplos de variantes que inicialmente pareciam assustadoras, mas acabaram não correspondendo a estas terríveis expectativas.

É o caso da variante beta, que inicialmente assustou por sua aparente capacidade de driblar o sistema imunológico. Entretanto, foi a variante delta que se espalhou pelo planeta.

Algumas das mutações observadas na B.1.1.529 já foram detectadas em outras variantes, o que pode dar pistas de seus efeitos.

A mutação N501Y, por exemplo, parece tornar mais fácil a propagação de um coronavírus.

Existem outras que tornam mais difícil para os anticorpos reconhecerem o vírus e podem tornar as vacinas menos eficazes, mas existem algumas que são completamente novas.

O professor Richard Lessells, da Universidade de KwaZulu-Natal na África do Sul, apontou que ainda há perguntas importantes a serem respondidas sobre essas alterações genéticas.

"Nos preocupa que esse vírus possa ter maior capacidade de se espalhar de pessoa para pessoa — mas também que seja capaz de contornar peças do sistema imunológico."

Recomendação da Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica nesta sexta-feira (26) recomendando que o governo brasileiro adote medidas de restrições para voos e viajantes vindos de parte da África, em decorrência da identificação de nova variante do SARS-CoV-2, identificada como B.1.1.529.

"É uma variante que possui características mais agressivas e que, obviamente, requer das autoridades sanitárias mundiais medidas imediatas. É exatamente o que fizemos há poucos minutos. Já enviamos nossas notas técnicas para os ministérios da Casa Civil, Saúde, Infraestrutura e Justiça no sentido que voos vindos desses países, são países localizados no sul do continente africano, sejam temporariamente bloqueados, não venham para o Brasil", explicou o diretor Antonio Barra Torres  

Barra Torres afirmou que nenhuma medida restritiva contra o coronavírus é totalmente eficaz, mas o governo brasileiro deve adotar medidas neste momento para que o Brasil não viva novas ondas de coronavírus.

"A prevenção deve ser feita agora. Quando se perde o tempo de prevenção, entramos no tratamento. Tratamento é aquilo que já vimos: são UTIs lotadas, famílias sendo ceifadas. Não há sentido em aguardar esse tipo de coisa. É claro que, se surgirem informações outras que nos levem a rever esse assessoramento, faremos", afirmou Barra Torres.

 

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