Olho roxo, costela machucada, hematoma nos lábios e corpo dolorido. Esse é o resultado das agressões sofridas pelo infectologista José Eduardo Panini, de 31 anos, na noite da última sexta-feira (26). O médico foi espancado dentro da própria casa após defender medidas de restrição à circulação de pessoas e suspensão das atividades não essenciais no Paraná, diante do aumento de casos de Covid-19 no estado.
O agressor foi o próprio cunhado de Panini, um homem descrito pelo médico como pessoa que nunca respeitou o isolamento social e sempre se recusou a usar máscara. A discussão começou quando o familiar insistia em sair para uma festa no momento mais grave da pandemia no Brasil.
"Eu e minha esposa estávamos orientando a não ir, falando dos riscos e das medidas sanitárias tomadas. E ele reagiu de forma agressiva, com socos e chutes. Até minha mulher foi agredida. Um amigo dele, que veio buscá-lo, ainda me segurou para ele me socar. Eu alertei sobre a pandemia e a resposta foi agressão", disse Panini.
A maior preocupação do médico era com o sogro e a sogra, que têm idade avançada e fazem parte do grupo de risco. Panini ainda apresentou dados, como o aumento de 30% na demanda por UTIs na região de Toledo e, por esse motivo, argumentou que seria prudente o cunhado dar "uma segurada".
"Eu não sei o que aconteceu na mente dele, pois ele não é normalmente agressivo. Agora eu estou todo dolorido, com a costela machucada e o olho roxo. Eu precisava de ponto na boca, mas cuidei em casa mesmo, com gaze. Nessa imagem que publiquei (nas redes sociais) eu já estou ótimo, melhorei bastante. Na sexta-feira estava muito pior", explicou.
A conversa com o cunhado aconteceu após Panini sair de uma reunião que determinou o que seria fechado no município de Toledo, em conformidade com o decreto do governo estadual. O infectologista ficou impressionado com os dados sobre o avanço da pandemia de forma descontrolada pelo interior do Paraná.
"Eu estive otimista, achava que poderíamos resolver a pandemia neste ano. Mas entramos em uma situação que vai demorar muito para sair, com as novas variantes, a dificuldade para vacinação e a alta transmissibilidade do vírus", disse.
Apesar da realidade adversa, Panini sustenta que "não é hora de desistir, mas de ficar firme". O infectologista pediu apoio das autoridades e da imprensa para aumentar a conscientização da população.
Panini é formado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e infectologista com residência médica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP. Também é especialista em infectologia pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e foi professor do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no campus de Toledo.
A agressão sofrida pelo infectologista repercutiu no município. O Conselho Municipal de Saúde de Toledo condenou, em nota, o ataque ao médico e cobrou que os autores sejam identificados e punidos.
"Salientamos que o Conselho repudia qualquer ato de violência e em se tratando do atual momento da pandemia, a qual (sic) servidores atuam incansavelmente para salvar vidas aqui em Toledo, assim como no mundo todo, atos desse tipo apontam total desrespeito com o próximo e só traz prejuízos a todos os que estão na luta para que isto um dia vire apenas história", afirmou.