Uma pesquisa recente feita no Brasil revelou que a maioria dos pacientes que sobrevivem à forma grave da Covid-19 tende a apresentar sintomas prolongados ou sequelas da doença, condição que tem sido chamada de Covid longa ou subaguda.
“Há mais de um ano sofremos as consequências da pandemia de Covid-19 e, com o tempo, fomos percebendo que, para além de problemas relacionados à transmissão, infecção e mortes, a Covid-19 pode trazer também consequências de longo prazo para pacientes. Como essas implicações ainda não estão completamente entendidas pelos cientistas, é muito importante estimular a troca de conhecimento e de experiências entre pesquisadores de todo o mundo", disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, na abertura do seminário on-line “Long and post-acute COVID-19”, realizado no início de junho.
O evento integra a série FAPESP COVID-19 Research Webinars, organizada com apoio do Global Research Council (GRC).
No evento, cientistas do Brasil e dos Estados Unidos apresentaram resultados preliminares de estudos que estão desenvolvendo a respeito do impacto prolongado da doença.
No Brasil, 882 pacientes que estiveram internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP) estão tendo aspectos da vida pós-COVID monitorados por pesquisadores para aprofundar o entendimento sobre a presença de sintomas da doença seis meses após a alta hospitalar. Todos os participantes do estudo tiveram a forma grave da doença, sendo que dois terços precisaram de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Com seis meses de análise, os pesquisadores observaram que é elevada a ocorrência de sintomas após a alta hospitalar.
- 89,3% apresentaram sintomas persistentes, como cansaço, dores pelo corpo e dispneia.
- 58,7% relataram pelo menos um sintoma emocional ou cognitivo, tais como:
- perda de memória (42%)
- insônia (33%)
- concentração prejudicada (31%)
- ansiedade (28%) e
- depressão (22%).
“Esses sintomas estão todos inter-relacionados. É importante destacar que esses resultados foram ajustados em relação aos sintomas apresentados antes de as pessoas terem Covid-19”, afirmou Geraldo Busatto, coordenador do Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria (LIM21) do HC-FM-USP e coordenador do estudo.
Transtornos pós-traumáticos
Busatto explica que, durante o estudo, foram realizadas entrevistas estruturadas com os pacientes, o que permitiu aos pesquisadores categorizar diagnósticos de transtornos psiquiátricos. “Há uma variedade de transtornos entre esses pacientes e um índice similar de estresse pós-traumático (13,65%) em relação aos dados disponíveis sobre a população em geral. No entanto, encontramos índices altos de alucinações (8,71%) e delírios (6,35%)”, ressaltou.
Também foi pedido que os participantes realizassem tarefas cognitivas. “Em comparação com a média brasileira, esses pacientes tiveram um resultado pior, isso especialmente entre os que tinham entre 60 e 75 anos. Já nos testes que analisaram fluência verbal, não houve diferença entre os pacientes e a população brasileira em geral. Isso mostra que, provavelmente, o déficit causado pela Covid-19 não é uniforme, algumas áreas da cognição devem apresentar mais déficits que outras”, disse Busatto.
Com informações da Agência Fapesp