Desde 2020, um modelo epidemiológico criado por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) acompanha o avanço da pandemia causada pelo novo coronavírus no estado do Piauí. Ajustando valores como a taxa de isolamento e medidas de proteção individual, foi possível estimar o número de contaminados, mortes e em quais momentos seriam necessários mais leitos de UTI. Não era profecia, mas sim ciência.
Agora, esse mesmo núcleo divulgou uma nova projeção que indica que a soma de mortes por Covid-19 dos cinco primeiros meses de 2021 será maior que todo o ano passado no Piauí. Além disso, as projeções apontam que o pico da pandemia da Covid-19 no estado será neste mês de maio.
Segundo o pesquisador Emídio Matos, que compõe o núcleo responsável por desempenhar a pesquisa responsável por definir medidas para conter o avanço do coronavírus, este cenário é o pior já enfrentado desde o início da pandemia. "Não é que o mês de maio seja o mês com o maior número de óbitos, é que neste mês, a soma dos meses acumulados de janeiro a maio de 2021 vai ultrapassar os óbitos de todo ano passado no Piauí. Isso deve acontecer até o dia 15 deste mês. As projeções apontam que o número de óbitos vai entrar em estabilidade. Já o número de casos novos permanece muito alta”, explicou o pesquisador Emídio Matos.
O professor doutor acrescenta que a conta permanece a mesma do início. Por exemplo, a cada 1000 casos novos por dia, 20% desses vão ter a doença mais grave. “Nesses 20%, um percentual menor vai precisar de atendimento na rede hospitalar e vai precisar de leito UTI, e um percentual desses vai morrer, então, a gente precisa reduzir o número de pessoas infectadas, ou se reduz o número de infectados, ou a gente vai permanecer dessa forma durante muito tempo, lembrando que os meses de maio e junho são historicamente os meses de maior síndrome gripal, gripe, de maneira geral, incluindo a covid-19. São meses que sempre foram bastante críticos aqui no Nordeste para síndrome gripal de uma maneira geral”, afirmou.
Além das projeções, os pesquisadores recomendaram a ampliação das testagens, vacinação e monitoramento de setores que podem estar tendo surtos da doença. “Nós, da UFPI e Fiocruz Piauí, recomendamos que se amplie a testagem, rastreio de contatos e isolamento social (com segurança alimentar). A Sesapi iniciou essa ação, reforçando o Busca Ativa nas 50 cidades com maior incidência da doença”, disse.
Projeção assustadora, mas realista
O médico infectologista do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela, em Teresina, Nayro Ferreira, destaca que a projeção feita pela UFPI, em conjunto com Fiocruz é assustadora, no entanto, realista. “Se as regras sociais sanitárias são seguidas à risca, o vírus não consegue circular, não consegue ser transmitido e o número de casos e de óbitos cai. No entanto, com relaxamento das medidas sanitárias ditadas pela Anvisa, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, a tendência é que o vírus volte a circular com mais força e quanto mais ele circula, maior a probabilidade do aparecimento de novas variantes, essas novas variantes tem uma transmissibilidade muito mais fácil, um contágio muito mais fácil, um adoecimento muito mais letal”, considera.
Para o especialista isso se deve, principalmente, a formação de aglomerados por jovens que é a população que mais está sofrendo com a segunda onda de casos e óbitos causados por complicações de covid-19. “Não é difícil de entender, isso é um círculo que quando se reduz o número de casos abre-se o comércio, há nova formação de aglomerados e consequentemente aumenta-se o número de casos e óbitos e não conseguimos sair disso nunca”, afirma.
Com a vacinação ainda está andando a passos lentos, haja vista um avanço no estado do Piauí, Nayro Ferreira, afirma que o Brasil ainda está longe de ter uma vacinação eficaz para que a população esteja livre da Covid-19. “Até agora a melhor maneira de prevenir a doença e a circulação do vírus é seguindo à risca as medidas sanitárias ditadas pelas autoridades em saúde”, pontuou.
É importante ressaltar ainda que as vacinas aplicadas até aqui não impedem completamente a transmissão do vírus, pelo menos até onde se sabe. Ou seja, mesmo vacinado ainda é importante manter as recomendações de uso de máscara e distanciamento social até que a situação esteja sob controle. “Ainda não avançamos o suficiente com a vacinação da população no Piauí para que tenhamos segurança para reabertura e flexibilização das atividades. Precipitar esse relaxamento poderá levar a um novo ciclo de abre-fecha”, avalia Emídio Matos, que integra o Centro de Operações Emergenciais (COE).(W.B)
Covid já matou mais este ano que em 2020
O luto dos brasileiros atingiu mais um marco simbolicamente trágico na pandemia. Trágico pelo número em si e, também, pela velocidade com que se chegou a ele. O Brasil passou de 400 mil pessoas que perderam a vida por causa da Covid no último dia 29 de abril.
O ritmo de mortes acelerou de forma incontrolável em 2021. No dia 17 de março do ano passado, o país registrou a primeira morte. Daí, foram quase cinco meses até atingir o número de 100 mil vítimas da Covid no dia 8 de agosto. Depois, mais cinco meses até as 200 mil mortes em 7 de janeiro. Aí, o tempo diminuiu pela metade: em dois meses e meio, 76 dias, passamos dos 300 mil mortos, em 24 de março. E agora, caiu pela metade de novo. Em apenas 36 dias, chegamos, infelizmente, às mais de 400 mil vítimas da Covid.
Com a atualização, 2021 já ultrapassou o total de 2020 em número de óbitos por conta do coronavírus. Com isso, a média diária de mortes deste ano está em mais que o dobro do ano passado. Em 2020, considerados apenas os 290 dias entre o primeiro óbito notificado (17 de março) e o último dia do ano, morreram, em média, 672,2 pessoas por dia em decorrência do coronavírus no Brasil.
Em 2021, são 1.703 pessoas morrendo a cada dia, em média, pela doença, considerados os 115 dias desde 1º de janeiro até o domingo, 25 de abril. Desde o início da pandemia, o Brasil conta com quase 15.000.000 infectados.
Decreto que flexibiliza bares e comércio vai até dia (8)
O Governo do Piauí publicou na última semana mais um decreto mantendo as medidas restritivas no estado até o domingo, dia 9 de maio. Algumas restrições permaneceram, mas o comércio pode funcionar até 17h e bares e restaurantes até 22, até esse sábado (8). Segundo o decreto, a autorização levou em conta a redução na taxa de transmissão do coronavírus no estado, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi).
A partir das 23h deste sábado (8) até as 24h do dia 9 de maio, ficarão suspensas todas as atividades presenciais econômico-sociais, com exceção das atividades consideradas essenciais. O funcionamento dos mercados, supermercados, hipermercados, mercearias, padarias, mercadinhos e de produtos alimentícios deve ser encerrado às 23h, sendo proibido o ingresso de clientes no estabelecimento após este horário. É permitido o atendimento dos clientes que já se encontrarem no interior do estabelecimento até esse horário.
Templos, igrejas, centros espíritas e terreiros poderão funcionar com atividades presenciais, mas apenas com público limitado a 25% da sua capacidade, não podendo haver mais de uma celebração diária, que não pode ultrapassar 2h de duração. O toque de recolher é de 23h a 5h, até 9 de maio. Dessa forma fica vedada a circulação de pessoas em espaços e vias públicas, ou em espaços e vias privadas equiparadas a vias públicas, ressalvados os deslocamentos de extrema necessidade.(W.B)