Imunidade a outros coronavírus não protege contra Covid-19

Estudo mostrou que anticorpos desenvolvidos em contágios anteriores à pandemia não atenuaram infecções

Mesmo proibidas, aglomerações são vistas em vários pontos do Rio de Janeiro nesta terça-feira de carnaval. | reprodução
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Desde o início da pandemia do novo coronavírus, mistérios intrigam cientistas: por que crianças são menos suscetíveis do que adultos? Por que algumas pessoas desenvolvem apenas sintomas moderados e outros mais graves? Uma das hipóteses levantadas foi a relação com a exposição a outros patógenos da família coronavírus, responsáveis por resfriados mais leves. Um estudo publicado na semana passada no periódico Cell, no entanto, indica que os anticorpos desenvolvidos contra outros coronavírus não têm papel relevante contra o Sars-CoV-2. As informações são do O Globo.

A pesquisa envolveu experimentos com vírus ativos e centenas de amostras de sangue colhidas antes e depois da pandemia. Os cientistas concluíram que a presença de anticorpos de coronavírus sazonais em crianças e outros indivíduos não tem impacto na defesa contra o novo patógeno.

Mesmo proibidas, aglomerações são vistas em vários pontos do país nesta terça-feira de carnaval.- Foto: Reprodução G1

A tese da imunidade prévia havia ganhado força com um artigo publicado na revista Science em dezembro.

— Pensávamos que concluiríamos que indivíduos com anticorpos desenvolvidos antes da pandemia contra coronavírus seriam menos suscetíveis à infecção e ao agravamento da Covid-19. Não foi o resultado que encontramos — diz Scott Hensley, imunologista da Universidade da Pensilvânia (EUA).

Hensley e seus colegas concluíram que a maioria das pessoas são expostas aos coronavírus sazonais até os cinco anos de idade. Como resultado, um a cada cinco indivíduos carregam os anticorpos que reconhecem o novo coronavírus. Mas essa resposta imune do corpo não é neutralizante, ou seja, não é capaz de desarmar o vírus nem de mitigar a gravidade dos sintomas.

Os pesquisadores examinaram amostras de 251 pessoas que doaram sangue para a Universidade da Pensilvânia antes da pandemia e desenvolveram Covid-19 depois. Os indivíduos tinham níveis de anticorpos capazes de reconhecer o coronavírus similares a de outras 251 pessoas que não contraíram a doença. As amostras não demonstraram relação com o quadro clínico dos que adoeceram. A equipe também comparou a quantidade de anticorpos criados contra os coronavírus responsáveis por resfriados e não encontraram diferença entre amostras.

— (O estudo da Science) Reportou níveis muito altos de anticorpos neutralizantes com reação cruzada (capazes de atacar pontos semelhantes em mais de um tipo de vírus) em crianças, algo que não encontramos — disse Hensley.

Especialistas independentes avaliaram que o estudo da universidade dos EUA é o mais convincente dos dois e mais consistente com as circunstâncias nas quais grandes grupos de pessoas se infectam com um novo vírus.

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