Governo recusou 1,5 milhão de doses de vacina ainda em 2020, diz Pfizer

Executivo da empresa disse à CPI que ofereceu ao governo 70 milhões de doses, não aceitas. Carlos Murillo confirmou ainda que empresa enviou carta a Bolsonaro.

gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo | Divulgação
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O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, afirmou nesta quinta-feira (13) à CPI da Covid que o governo brasileiro não respondeu no ano passado a ofertas de contratos apresentados pela empresa que previam 1,5 milhão de doses da vacina ainda em 2020.

O Brasil acabou fechando contrato com a Pfizer só em 19 de março deste ano, quando a pandemia estava no auge, o sistema de saúde nos estados estava em colapso e a vacinação no país mantinha-se em ritmo lento. As primeiras doses da Pfizer começaram a chegar nos últimos dias de abril.

 Gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo

"Nossa oferta de 26 de agosto, como era vinculante, e como estávamos nesse processo com todos os governos [de outros países] tinha validade de 15 dias. Passados esses 15 dias, o governo do Brasil não rejeitou, mas tampouco aceitou", afirmou Murillo, citando uma das propostas.

De acordo com o executivo da Pfizer, a empresa apresentou, em agosto, três propostas para o governo, que ficaram sem resposta. As três previam um contrato de 30 milhões de doses ou de 70 milhões de doses.

Assista a sessão na íntegra

Os termos das propostas para 70 milhões de doses em agosto, segundo Murillo, foram os seguintes:

1ª PROPOSTA (14 de agosto de 2020)

  • 500 mil doses ainda em 2020
  • 1,5 milhão de doses no 1º trimestre de 2021
  • 5 milhões de doses no 2º trimestre de 2021
  • 33 milhões de doses no 3º trimestre de 2021
  • 30 milhões de doses no 4º trimestre de 2021

2ª PROPOSTA (18 de agosto de 2020) 

  • 1,5 milhão de doses ainda em 2020
  • 1,5 milhão de doses no 1º trimestre de 2021 
  • 5 milhões de doses no 2º trimestre de 2021
  • 33 milhões de doses no 3º trimestre de 2021
  • 29 milhões de doses no 4º trimestre de 2021

3ª PROPOSTA (26 de agosto de 2020)

  • 1,5 milhão de doses para 2020
  • 3 milhões de doses para o 1º trimestre de 2021
  • 14 milhões de doses para o 2º trimestre de 2021
  • 26,5 milhões de doses para o 3º trimestre de 2021
  • 25 milhões de doses para o 4º trimestre de 2021

Em todas as ofertas, o preço foi de US$ 10 por dose, segundo Carlos Murillo. A Pfizer já havia relatado em nota, em janeiro de 2021, que havia feito as ofertas para o país.

Murillo relatou à CPI que, depois das ofertas de agosto, foram feitas ao governo brasileiro propostas também no mês de novembro. A partir de então, todas as ofertas só se referiam a 70 milhões de doses. Também as de novembro não foram aceitas pelo Brasil

4ª PROPOSTA (11 de novembro de 2020)

  • 2 milhões de doses para o 1º trimestre de 2021
  • 6,5 milhões de doses para o 2º trimestre de 2021
  • 32 milhões de doses para o 3º trimestre de 2021
  • 29,5 milhões de doses para o 4º trimestre de 2021

5ª PROPOSTA (24 de novembro de 2020)

  • Mesma previsão de doses da proposta de 11 de novembro

Murillo relatou também uma proposta feita em fevereiro. Essa previa 100 milhões de doses: 8,7 milhões no 2º trimestre; 32 milhões no 3º trimestre e 59 milhões no 4º trimestre. Também não foi aceita.

Carta para Bolsonaro

A Pfizer, ao lado da BioNTech, foi uma das primeiras empresas a apresentar vacinas contra o novo coronavírus ao mundo. A vacina do laboratório tem registro definitivo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Para parte dos integrantes da CPI, o governo Jair Bolsonaro foi "incompetente" e "pouco se empenhou" para comprar doses do imunizante desenvolvido pelo laboratório.

Murillo confirmou que a Pfizer enviou, em 12 de setembro, uma carta ao presidente Jair Bolsonaro, com cópia para integrantes da cúpula do governo, reforçando o interesse da empresa em fazer negócio com o Brasil.

Na quarta-feira (12), em depoimento à CPI, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten afirmou que a carta ficou dois meses sem resposta. Wajngarten disse que ficou sabendo do documento em 9 de novembro, quando ele próprio decidiu entrar em contato com a Pfizer.

"A carta foi enviada em 12 de setembro, assinado apelo nosso CEO global, e era dirigida ao presidente Jair Bolsonaro mais outra autoridades do governo", afirmou Murillo.

"Com cópia para Hamilton Mourão, vice-presidente; para o [então] ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto; para o [então] ministro da Saúde Eduardo Pazuello; para o ministro da Economia, Paulo Guedes, e para o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nelsos Foster", completou.

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