"Foi um baque para toda a maternidade quando a gente viu tantos recém-nascidos com covid, não era comum. No dia 9, a UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal) foi interditada para cuidarmos apenas dos 15 bebês infectados. A maioria deles não apresenta sintomas da covid-19, mas já têm quadro grave pela própria prematuridade.
Apesar do baque, acho que a situação faz parte do momento pelo qual estamos atravessando. É um momento atípico, se trata de um vírus novo que ainda tem muito a ser estudado. Mas têm sido dias bastante difíceis, um grande desafio para toda a equipe. Essa situação gera angústia, apreensão e medo. Por outro lado, é gratificante ver cada evolução positiva dos nossos pequenos e comemoramos bastante.
"E numa UTI neonatal há um outro desafio, além dos filhos, é preciso cuidar das mães que não podem vê-los. Tentamos tranquilizá-las sempre que possível, dando todo o apoio necessário. Como as visitas estão proibidas por causa do isolamento, todos os dias telefonamos para cada uma das mães para dar o boletim médico sobre o quadro de seus filhos. Quando percebemos que alguma mãe está muito fragilizada emocionalmente, contamos com o apoio da equipe de psicólogos para a comunicação com elas."
A maior mudança na nossa rotina de trabalho é em relação ao isolamento. É realmente angustiante a situação, pois se trata de um vírus novo, uma situação nova. Os cuidados com os bebês não mudam, são os mesmos da rotina de uma UTI neonatal. O que muda são os cuidados relativos ao uso de EPIs [equipamentos de proteção individual] e as precauções para evitar a transmissão e a disseminação do coronavírus.
Hoje, o maior desafio, para mim, é sair de casa para exercer nosso papel fundamental, independentemente de qualquer diagnóstico. Podemos até levar nossos medos e angústias, mas não podemos deixar que isso interfira no nosso cuidado com o recém-nascido, na assistência a ele".
Karine Ferro, 42, é enfermeira da UTI neonatal da Maternidade Santa Mônica, em Maceió.