Diretor de hospital público relata reinfecção pelo coronavírus

Ele disse estar confiante na melhoria do quadro clínico apesar de estar sentindo sintomas mais severos da Covid-19 desta vez

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 O médico anestesista Daniel Tanaka, diretor clínico de um hospital público para onde são encaminhados os casos de coronavírus da região de Parintins, no interior do Amazonas, ganhou repercussão nas redes sociais neste domingo ao compartilhar o relato de ter recebido um diagnóstico de reinfecção pelo vírus na semana passada.

Tanaka disse estar confiante na melhoria do quadro clínico apesar de estar sentindo sintomas mais severos da Covid-19 desta vez, como febre alta e perda de capacidade respiratória. Por causa disso, o médico está internado desde quinta-feira no Hospital do Coração, unidade referência no combate ao coronavírus, na capital paulista.

Após sentir febre e dores pelo corpo, Tanaka recebeu o primeiro diagnóstico positivo em 25 de abril. A informação veio de um teste rápido capaz de medir a presença de anticorpos na corrente sanguínea. Ainda em Parintins, o médico fez outros três testes rápidos que confirmaram a exposição dele ao vírus.

-- Após a minha postagem, muita gente me perguntou nas redes sociais porque não fiz o teste completo (chamado de PCR-RT, coletado com secreções nas narinas e outras partes do corpo). Só havia testes desse tipo em Manaus, e o laboratório tinha fila de espera de 15 dias -- diz.

Após o primeiro diagnóstico, por teste rápido, Tanaka entrou em quarentena. Além disso, seguiu um tratamento com hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. Após o terceiro dia, o médico suspendeu o uso de hidroxicloroquina por causa de alterações no funcionamento do fígado. Os sintomas desaparecem durante a quarentena de 15 dias.

"Já supostamente imune ao vírus, após (ter) cumprido meu período de isolamento, voltei ao combate na linha de frente. Confiante, fui fazer meu exame a fim de obter a detecção do IgG (o anticorpo que os chamados “testes rápidos” identificam no sangue de pessoas que já tiveram o vírus), que mostraria que meu organismo estaria recuperado. Minha decepção ao saber que ainda tinha apenas o IgM positivo", escreveu ele no Facebook.

Ele conta que, em razão da urgência em seu trabalho, decidiu retomá-lo antes mesmo que o anticorpo fosse positivado. "Estava bem. A dor torácica havia passado. Meu pulmão estava 100%. Era hora de enfrentar todos os desafios, pois o hospital estava lotando, e mais e mais pacientes internavam com gravidade importante."

No dia 23 de maio, porém, ele contou que começou a se sentir muito fadigado e não conseguia sair da cama. "Mas obviamente não tinha escolha. Fui trabalhar. Sábado à noite, febre e calafrios. Coriza."

Ainda assim, ele encarou mais um dia de trabalho. "Saí acabado do hospital, mas feliz. Mais uma noite com febre. E, no outro dia, muita dor no peito. Nesse momento um filme passou pela minha cabeça. Eu, que havia me isolado da minha família por 52 dias para protegê-la, poderia estar novamente com Covid-19? E ainda fatalmente a teria contaminado."

Tanaka credita a possível reinfecção a alguns fatores. A começar pela exposição demasiada ao vírus. Na condição de diretor clínico do hospital de Parintins, ele intubou dezenas de pacientes com sintomas da Covid-19. Ao estresse no trabalho somaram-se a má alimentação e as noites mal-dormidas por causa das jornadas longas de trabalho.

-- Segui com a imunidade baixa mesmo estando assintomático -- diz ele.

A reinfecção pela Covid-19 ainda não é consenso médico mundo afora. Tanaka reconhece que existe a chance de ele simplesmente ter ficado com o mesmo vírus desde a primeira infecção. Ao mesmo tempo, diz que é baixa a possibilidade de isso ter acontecido, uma vez que realizou quatro testes rápidos ainda em Parintins e, nesse período, algum deles teria dado negativo.

Em meio à volta dos sintomas de Covid-19, Tanaka conta que alguns amigos o aconselharam a ir para São Paulo, em busca de uma investigação minuciosa. Ele foi, então, para o  Hospital do Coração, onde fez o teste completo, chamado de PCR-RT, que confirmaram a infecção pelo vírus.

"A equipe da infectologia optou então por me internar. Para investigar a fundo o que está acontecendo, e principalmente para tentar brecar essa avanço rápido da doença em meus pulmões.Ainda sinto muito desconforto no tórax, e hoje ainda tenho alguns exames e muitas medicações para tomar", escreveu no Facebook.

Os sintomas estão mais graves desta vez. A febre está ao redor de 38 graus. As dores pelo corpo estão mais intensas, em particular as na região do tórax. A pele está com um vermelhidão típico de infecções virais. Uma tomografia mostrou um comprometimento de 35% da capacidade pulmonar por causa da infecção.

O tratamento está sendo parecido ao da primeira fase dos sintomas. O médico está tomando hidroxicloroquina, azitromicina e corticóides na tentativa de estancar a infecção. Até agora não foi necessária ventilação mecânica.

-- Estou tranquilo que vou sair dessa. Agora é acompanhar as próximas tomografias para saber se a lesão pulmonar causada pelo vírus diminui -- diz. Em meio ao otimismo, Tanaka terminou o relato no Facebook com a seguinte frase: "Espero que meu próximo post seja sobre minha alta".

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