A variante brasileira do novo coronavírus – conhecida como P.1. ou variante de Manaus – provavelmente emergiu na capital amazonense em meados de novembro de 2020, cerca de um mês antes do número de internações por síndrome respiratória aguda grave na cidade dar um salto. Em apenas sete semanas, a P.1. tornou-se a linhagem do SARS-CoV-2 mais prevalente na região, relatam pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE).
A confirmação de novos casos de covid-19 causados pela variante brasileira P.1 no Piauí e outros estados brasileiros aumenta a preocupação com uma nova onda da covid-19 e uma eventual saturação do sistema de saúde. Embora existam centenas de variantes do coronavírus já identificadas no mundo, a variante brasileira P1 tem mutações que tornam o vírus mais contagioso e também mais resistente a anticorpos da doença, o que pode aumentar o número de casos inclusive entre as pessoas que já se recuperaram da covid-19.
O avanço da P1 pelo país é preocupante, pois, segundo cientistas, ela demonstra ser mais transmissível. O principal freio seria a vacinação em massa. Mas a campanha nacional de imunização sofre com a escassez de vacinas.
Para Nayro Ferreira, médico infectologista do Instituto De Doenças Tropicais Natan Portela, em Teresina, diante do número elevado de casos, do ritmo lento da vacinação e da nova linhagem circulando, o Piauí deveria considerar, se não um lockdown completo, novas medidas que restrinjam a circulação de pessoas. A situação atual, ele alerta, nos encaminha para uma onda de novos casos ainda mais preocupante, pois, agora, com variantes do vírus.
"O coronavírus sofreu mutações, entre elas, a P.1, que é uma cepa extremamente contagiosa, transmissibilidade muito fácil, isso porque a replicação viral nas vias áreas superiores é bem maior que a cepa selvagem e isso facilita o alto contágio e independente de ser a cape P.1 ou outra cepa de coronavírus, a pessoa depois de 90 dias de ter adoecido volta a cair títulos de anticorpos e fica novamente propenso a ter covid-19 por uma segunda vez, são os casos de reinfecção e isso já é relatado na literatura médica e científica”, comentou o especialista.
As mutações afetam a proteína S, que é determinante na propagação do vírus. Por isso, e pelo pico de doentes observados em Manaus, cientistas acreditam que a variante seja sim mais transmissível. Além disso, os estudos indicam que quem já foi contaminado pode ser novamente infectado por essa variante do Sars-CoV-2, por isso quem já teve Covid-19 precisa continuar se precavendo.
Relaxamento e falta de isolamento causaram 2ª onda no Piauí
O professor doutor em matemática aplicada, Jefferson Leite, que trabalha com modelos matemáticos em epidemiologia, coordenou uma pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que apontou que o aumento de casos de Covid-19 no Piauí é resultado do relaxamento social, das aglomerações das eleições, festas de final de ano e carnaval.
Segundo o pesquisador, a despreocupação das pessoas e as interações sociais fizeram crescer ainda mais o pico de novos casos. Esses fatores fizeram com que a segunda onda se iniciasse em fevereiro de 2021 com mais força do que a primeira registrada em junho do ano passado.
“No final de 2020 iniciou-se um relaxamento das medidas restritivas e das pessoas com relação à gravidade da pandemia sem a vacinação em massa e sem a chamada imunidade de rebanho e como todo vírus tem uma característica em termos de quantidade de infecção e de sofrer ondas, por exemplo, o H1N1, que já existe há mais de 10 anos, tem, inclusive, a vacina para ele e mesmo assim tem períodos do ano que a contaminação é maior, com o coronavírus não é diferente. Como tivemos as campanhas eleitorais, festas de fim de ano, festas de carnaval que ocorreram de forma clandestina e essa saída gradual do que seria o isolamento social fizeram que com fatalmente o reflexo disso fosse o aumento de novos casos e ocupações de leitos de covid-19”, afirmou o coordenador da pesquisa.
Segundo Jefferson Leite, a segunda onda se assemelha à primeira, contudo, desta vez, não foram tomadas medidas iguais às da primeira para frearam o aumento do pico de novos casos, além disso, o pesquisador defende que a abertura das escolas com aulas presenciais e a falta de medidas mais duras têm contribuído para que os casos cresçam ainda mais.
“Outra preocupação é de que a nova cepa que surgiu está se espalhando mais rápida e atacando os jovens de uma forma mais forte, fazendo com que eles convirjam para uma situação mais grave com relação ao que era antes e como essa população jovem de 20 a 49 anos são as mais expostas, certamente nos mostra que nós temos uma dificuldade muito grande pela frente, porque esses mais jovens não vão ser vacinados tão cedo, junto com o fato das crianças estarem assistindo aulas presenciais que foi um meio muito grande de propagação da doença, vai gerar uma reação em cadeia sem precedentes em espalhamento do vírus que vai fazer sem sombra de dúvidas um março, abril e maio muito difíceis”, avaliou.
O professor defende que as medidas de isolamento social aplicadas hoje terão um impacto nos números de casos depois de 30 dias e afirma que o estado deve chegar à faixa de 30 óbitos por dia em breve. Segundo o pesquisador, a morte de hoje é um vírus que foi contraído há um mês.
Estudo indica que vacinas são eficientes contra P.1
Dados preliminares de um estudo realizado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, indicam que a vacina contra a covid-19 da AstraZeneca é eficaz contra a variante P1, conhecida como brasileira por ter sido descoberta em Manaus, no Amazonas.
A CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, também se mostrou eficaz contra a variante, de acordo com estudo feito pelo Instituto Butantan e divulgado por uma fonte da Reuters. As duas análises indicam que as vacinas não precisarão ser modificadas.
Os novos estudos devem ajudar no avanço da vacinação em todo o mundo, já que resultados divulgados anteriormente indicavam que a vacina da AstraZeneca era menos eficaz contra a variante da África do Sul, que é semelhante à P1.
A nova variante tem causado medo na comunidade médica por ser mais transmissível do que cepas anteriores do coronavírus. Ela é vista como um dos fatores para a amplitude da nova onda da pandemia no Brasil.